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Jamil Chade

Chanceler critica China e põe Brasil a frente de "nova ordem mundial"

O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, na Casa Branca - Reprodução/Twitter
O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, na Casa Branca Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

22/05/2020 18h38

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O chanceler Ernesto Araújo acredita que o Brasil poderia fazer parte de uma espécie de novo Conselho de Segurança que seria formado em um mundo pós-pandemia. Durante a reunião do dia 22 de abril, com o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros, ele apresentou uma avaliação do cenário internacional e aproveitou para fazer críticas veladas aos chineses.

Hoje, a China representa um terço dos destinos das exportações brasileiras.

Nos trechos revelados, o que fica claro é sua crença de que, hoje, o Brasil teria a capacidade de influenciar a nova ordem mundial. Para ele, o país "tem de influir no desenho de um novo cenário internacional".

"Eu tô cada vez mais convencido de que o Brasil tem hoje as condições, tem a oportunidade de se sentar na mesa de quatro, cinco, seis países que vão definir a nova ordem mundial", disse o ministro.

"É, outro dia a...na conversa do presidente com o primeiro ministro da Índia, o indiano disse que vai ser tão diferente o pós-coronavírus do pré quanto pós segunda guerra do pré", explicou.

"Eu acho que é verdade e assim como houve um conselho de segurança que definiu a ordem mundial, cinco países depois da... da segunda guerra, vai haver uma espécie de novo é... conselho de segurança e nós temos, dessa vez, a oportunidade de tá nele e acreditar na possibilidade de o Brasil influenciar e forma... ajudar a formatar um novo é... cenário", afirmou.

A adesão do Brasil como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU foi um objetivo permanente da diplomacia brasileira. Nos anos 90, junto com Alemanha, Japão e Índia, o país formou o G-4 para pressionar por uma reforma do Conselho. Mas o projeto jamais caminhou.

Ernesto Araújo, porém, aponta que o Brasil estaria em situação de ser influente no mundo. Os comentários ocorrem num momento de extrema fragilidade internacional do país, afetado por uma crise de credibilidade e fora das grandes alianças internacionais. O Brasil mantém uma dívida inédita com a ONU, critica OMS, ofende líderes internacionais e foi excluído até mesmo de iniciativas para o desenvolvimento de vacinas. Na OCDE, relatórios internos criticam de forma severa a condução do governo, enquanto Bolsonaro é manchete em todo o mundo diante de seu comportamento negacionista no caso da covid-19 e do meio ambiente.

Críticas aos chineses

Um trecho, porém, pode representar danos comerciais ao Brasil. O chanceler critica a globalização que tem a China como um de seus pilares.

"E esse cenário é,... eu acho que ele tem que levar em conta o seguinte é... tamos aí revendo os últimos trinta anos de globalização. Vai haver uma nova globalização", afirmou.

"Que que aconteceu nesses trinta anos? Foi uma globalização cega para o tema dos valores, para o tema da democracia, da liberdade. Foi uma globalização que, a gente tá vendo agora, criou é... um modelo onde no centro da economia internacional está um país que não é democrático, que não respeita direitos humanos etc., né?", disse, numa referência aos chineses e sem citar o nome do país.

" É... essa nova globalização acho que não pode ser cega, né? É, tem que ser uma globalização, tem que ser uma estrutura, é, que leva em conta, claro, a dimensão econômica, mas também essa dimensão da, da liberdade, dos valores", afirmou.

Nas últimas semanas, Araújo tem usado reuniões internacionais e textos em seu blog para alertar sobre o risco do comunismo. Ele chegou a aproveitar a reunião especial do Conselho de Segurança da ONU para marcar os 75 anos da derrota dos nazistas para alertar sobre os riscos do comunismo.

Ataques contra Pequim por parte de familiares de Bolsonaro e deputados aliados chegaram a gerar uma dura resposta por parte da China.

Para ex-ministros, com Luis Henrique Mandetta, o Brasil "paga o preço" hoje dos atritos que Araújo criou com Pequim.

O chanceler, porém, manteve na reunião um tom crítico contra a China e ensaiou um tom nacionalista.

"E é, da mesma maneira, acho que o plano e, tá apontando pra isso, no nosso e, é a nossa dimensão nacional, também não pode ser um plano cego para, a, essas dimensões do, daquilo que nos traz, né?", afirmou.

"Que traz o projeto do, do presidente, que é não simplesmente a eficiência, a pujança, o crescimento econômico, mas, hã... liberdade, hã... hã... o combate a corrupção, o... a... a re... reinvenção de um Brasil, é... livre, de um Brasil, livre dessas, é... mazelas que nós conhecemos. Obrigado", concluiu.