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Salles aprofunda desgaste do Brasil e coloca em xeque acordo Mercosul-UE

Manifestantes exigem saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente - Reprodução/Twitter
Manifestantes exigem saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

28/05/2020 04h00

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A sugestão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de usar a pandemia para promover uma maior desregulamentação na área ambiental aprofunda a rejeição de uma parcela de parlamentares europeus à ideia de um acordo com o Mercosul.

No ano passado, o bloco sul-americano concluiu um acordo comercial com a UE, depois de 20 anos de negociações. Mas o tratado precisa ser ratificado e, para isso, terá de passar por todos os 27 parlamentos da UE.

Ao longo dos últimos meses, parlamentos como o da Bélgica e Áustria votaram moções contrárias ao acordo, um sinal claro de que o projeto já teria sérias dificuldades para ser aprovado. Mas a crise se ampliou diante da resposta do Brasil à pandemia e as últimas revelações envolvendo a reunião ministerial do dia 22 de abril.

No Parlamento Europeu, deputados revelaram à coluna que começam a se mobilizar para tentar frear qualquer avanço de uma agenda que defenda a aprovação do tratado. Na Espanha, grupos também se mobilizam para fazer frente aos interesses de grandes multinacionais do país, de olho em investimentos no Brasil.

Mas no caso da Alemanha, maior economia da Europa, a resistência a uma aproximação com o Brasil se ampliou nos últimos meses e, diante das revelações de Salles, as críticas passaram a ser explícitas.

Uma das mais vocais é a deputada do Partido Social-Democrata, Yasmin Fahimi. No Bundestag, ela preside o Grupo de Amizade Brasil-Alemanha, é a relatora de seu partido para a América Latina e já passou pela Comissão de Relações Exteriores do Parlamento.

O SPD faz parte da aliança no governo alemão e é, hoje, o segundo maior partido do país.

"A destruição da floresta amazônica e o deslocamento dos povos indígenas têm sido sistematicamente promovidos pelo governo Bolsonaro desde que tomou posse", alertou a deputada. "As reuniões do gabinete que agora vieram à luz e as declarações do chamado ministro do Meio Ambiente não são, portanto, surpreendentes. Mas me entristece ver até que ponto a ameaça aos povos indígenas da Amazônia voltou a crescer à sombra da pandemia", afirmou.

"Com suas políticas, Bolsonaro arrisca conscientemente a extinção de tribos inteiras", criticou.

"Na Alemanha, observamos com grande preocupação como a autoridade ambiental do Ibama continua enfraquecida e impedida de realizar seu trabalho", disse. "O Estado de Direito está sendo abusado para demitir funcionários. Bolsonaro legalizou retrospectivamente a posse de terras por decreto presidencial e, assim, indiretamente incentiva a continuação da exploração abominável da floresta amazônica", afirmou a deputada.

Segundo ela, em 2019 já estabeleceu um "recorde deprimente em termos de corte ilegal e desmatamento". "Agora, ficamos sabendo que o desmatamento voltou a aumentar em abril em até 65%. Nosso projeto compartilhado para proteger a floresta amazônica entrou efetivamente em colapso", constatou.

Para a deputada, não há como ratificar hoje um acordo com o Mercosul. "Bolsonaro representa um perigo para a democracia, para o Estado de Direito e para a existência permanente da floresta amazônica. Atualmente não vejo como é possível conciliar as políticas de Bolsonaro com as nossas exigências para o acordo UE-Mercosul nas áreas de desenvolvimento sustentável e direitos humanos", completou.