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Grupos acusam Itamaraty de vetar participação de indígena em reunião da OEA

Francinara Soares Baré, a primeira mulher a assumir a liderança da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) - Reprodução
Francinara Soares Baré, a primeira mulher a assumir a liderança da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

07/08/2020 17h58

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Entidades brasileiras e estrangeiras acusaram o governo brasileiro de ter vetado a participação representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Nara Baré, em reunião da OEA sobre povos indígenas e Covid-19. O encontro, por vídeoconferência, ocorreu nesta sexta-feira.

"As reuniões do Conselho Permanente da OEA têm entre seus objetivos proporcionar que os estados membros da entidade escutem as declarações de líderes indígenas da região", indicou a entidade. "Como oradora convidada, seu papel seria o de informar ao Conselho Permanente, e outros convidados da sessão, sobre os impactos da Covid-19 entre os povos indígenas, e como as organizações e comunidades estão combatendo o vírus por sua iniciativa própria", apontaram.

Procurado pela reportagem, o Itamaraty ainda não explicou o ocorrido. Além de Nara, Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) também teve sua participação vetada.

Nas suas redes sociais, o secretário-geral da OEA, Luís Almagro Lemes, afirmou que a "Covid19 exacerbou a vulnerabilidade dos mais necessitados".

"A postura da OEA e de seus membros, principalmente o Brasil, não condiz com o discurso do secretário-geral da OEA, onde afirma que quer nos escutar e fazer algo pelos povos indígenas, mas impede uma liderança amazônica de se pronunciar perante os membros da organização", afirma Kleber Karipuna, liderança da COIAB.

Em nota, a entidade indígena "repudia veementemente o cancelamento da participação da nossa liderança neste importante espaço de debate e denúncia internacional dos direitos humanos, pois acredita que se trata de mais um ato de discriminação e censura aos povos indígenas".

"É inadmissível e vergonhoso que o Governo Brasileiro, com respaldo da OEA, silencie as vozes indígenas na tentativa de esconder suas ações e políticas de desmantelamento dos direitos indígenas, e da sua ineficiência no enfrentamento da pandemia da Covid-19", disse.

As críticas contra o Itamaraty também foram feitas pela entidade americana Indian Law Resource Center, que indicou que foi a OEA quem "pediu aos povos e organizações indígenas que selecionassem um líder indígena para se dirigir ao Conselho Permanente".

"Acreditamos que seria muito importante nomear Nara Baré, a maior organização indígena regional do Brasil, para falar ao Conselho Permanente sobre os impactos da COVID-19 nos povos indígenas. No entanto, ao saber de sua nomeação, o Brasil a bloqueou. A tentativa em pânico do Brasil de silenciar Nara é mais uma marca inconfundível do racismo, da ilegalidade e da opressão que caracterizam o governo do Brasil", criticou a entidade.

"O Brasil tem muito o que esconder - ações e políticas explícitas para negar os direitos dos povos indígenas, retendo serviços médicos a essas pessoas mais vulneráveis, usando a pandemia como cobertura para aprovar leis para desmantelar proteções ambientais, encorajando invasões ilegais de terras indígenas e promovendo o desmatamento nessas terras, e muito mais", disse.

"O Brasil está silenciando um líder indígena que se pronunciaria contra estas e outras violações dos direitos humanos. Fazer isso é totalmente contra os propósitos e princípios da OEA e uma vergonha para a organização", acusou.

"Exigimos que a OEA explique publicamente esta ação. É vergonhoso que esteja permitindo que o Brasil cale uma líder indígena", completou.