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OMS: Planalto e estados precisam chegar a consenso para enfrentar 2a onda

21/05/2020 - João Doria (na tela) se pronuncia durante videoconferência com o presidente Jair Bolsonaro (de costas) e outros governadores - Marcos Corrêa/PR/Divulgação
21/05/2020 - João Doria (na tela) se pronuncia durante videoconferência com o presidente Jair Bolsonaro (de costas) e outros governadores Imagem: Marcos Corrêa/PR/Divulgação

Colunista do UOL

27/11/2020 14h00

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A OMS (Organização Mundial da Saúde) sinaliza que, com uma perspectiva de um aumento de casos da covid-19 no Brasil e no restante da América Latina, países precisam agir rapidamente e dar um ponto final nas disputas entre estados e governo federal.

Para a agência, a Europa pode servir de lição e as autoridades brasileiras precisam, desta vez, atuar para proteger seu sistema de saúde. Essa será a forma de se evitar que a segunda onda gere uma maior taxa de mortalidade.

Um ponto central, na avaliação da OMS, é de que diferentes níveis de governo estabeleçam uma melhor coordenação para dar uma resposta eficiente. A crise sanitária brasileira levou a um confronto aberto entre estados e o governo federal.

Mike Ryan, chefe de operações da agência, foi enfático em alertar sobre o cenário de um novo aumento de casos. "Na primeira onda, todos tinham uma desculpa. Todos estávamos aprendendo. Mas, na segunda vez, (autoridades) precisam ter aprendido", insistiu. "Ou seja, precisamos de uma ação mais rápida, mais consistente e mais coordenada", defendeu.

Para o irlandês, a Europa aprendeu a coordenar melhor sua resposta entre os países, assim como passar uma mensagem mais consistente para a população. Algo similar deve acontecer no Brasil.

"Se vemos a Europa com uma federação de estados e olharmos para um país grande com o Brasil, vemos essa habilidade de negociar e atingir consensos com entidades subnacionais e encontrar consenso sobre como ir adiante juntos para que a população tenha clareza sobre decisões, sobre a mensagem, sobre o mandato de implementação de medidas pelo governo", defendeu.

No caso brasileiro, a pandemia foi motivo de acusações mútuas entre governadores e o presidente Jair Bolsonaro.

Sistema de saúde

O chefe de operações ainda destacou o papel central do sistema de saúde brasileiro. Segundo ele, o serviço público reagiu bem à primeira onda. "Mas foi colocado no limite de sua capacidade, tanto no que se refere aos equipamentos como à fadiga pessoal", disse. "Portanto, vai ser importante que estejam protegidos se esse número aumentar", defendeu.

Ryan deixa claro que UTIs lotadas significam um aumento no número de mortes e uma recuperação mais lenta dos pacientes. Os estudos, segundo ele, revelaram que quanto mais tempo profissionais de saúde passam com um paciente, maior sua chance de se recuperar.

"Não há motivos para ter uma segunda onda. Isso está em nosso poder", alertou Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS.

Agir rápido e de forma coordenada

Ryan também insiste que uma ação rápida pode ser fundamental. "A maior parte da América do Sul passou por um momento duro", disse. "Os números caíram de forma progressiva na maioria dos países nos últimos dois meses. Mas agora vemos a perspectiva de os números crescerem de novo. E há lições para aprender da América do Norte e da Europa", disse.

Para ele, onde países agiram cedo de forma decisiva houve um resultado positivo.

Mas isso, segundo o chefe de operações, isso exigiu cooperação das pessoas e o entendimento de que precisam adotar medidas de distanciamento social, usar máscaras, focar em higiene e, em alguns casos, aceitar lockdown.

Renda X ficar em casa

Ryan admitiu a dificuldade de tomar medidas de confinamento em locais onde a pobreza e a densidade demográfica é evidente, e onde as pessoas precisam ganhar sua renda de forma diária.

"É muito difícil esperar que as pessoas abram a mão de suas rendas e ficar em casa", reconheceu. Para ele, porém, a transmissão cai assim que as intervenções conseguem ser realizadas e que população embarca no projeto.

No caso de uma segunda onda, o foco ainda deve ser o de adotar medidas de cautela para evitar transmissões em casa e adotar medidas de proteção individual.

Ninguém pode prometer erradicação, alerta Ryan

Em sua coletiva nesta sexta-feira, a OMS ainda deixou claro que, mesmo com uma vacina, "ninguém pode prometer a erradicação do vírus". Ryan destaca que, hoje, não se sabe qual será o comportamento do vírus, dos locais de transmissão e o efeito da vacina em frear a circulação da doença.

Para que haja uma imunidade de rebanho gerada pela vacina, entre 60% e 70% da população mundial teria de ser vacinada, o que ainda implica em bilhões de doses que simplesmente não existem.

A entidade também pediu mais transparência e um número maior de testes por parte de empresas que estejam desenvolvendo vacinas. O apelo ocorre depois que a farmacêutica AstraZeneca passou a ser alvo de pressões e questionamentos depois que ficou evidente que seus resultados mostravam inconsistências.

A análise preliminar do produto revelou uma variação na taxa de eficácia entre 62% e 90% e autoridades, como a britânica, passaram a alertar que novos testes precisariam ser realizados. A empresa também indicou que refaria o processo, num gesto que poderá atrasar a aprovação da nova vacina.

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, também alertou sobre o fato de os testes da AstraZeneca envolver menos de 3 mil pessoas e todas elas com menos de 55 anos de idade. "É muito difícil comparar os grupos. Os números são pequenos para se ter uma conclusão", disse, pedindo mais testes clínicos.

Investigação em Wuhan, onde tudo começou

Durante a coletiva de imprensa, a OMS ainda anunciou que uma equipe de investigação finalmente irá até Wuhan para avaliar como o vírus pode ter se espalhado. "O estudo vai começar da China e dali podemos ir para qualquer lugar", afirmou Tedro Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

O governo americano insiste em acusar a China pela pandemia, enquanto a entidade pede cautela em determinar a origem do vírus. A realidade, porém, é que Pequim levou quase um ano para autorizar que uma primeira equipe internacional desembarque na cidade que serviu de epicentro para a crise global.