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Jamil Chade

Vacina não gerará imunidade de rebanho em 2021 e medidas precisam continuar

5.jan.2021 - Enterro em Manaus de vítima de covid-19, a professora Jonilza Cardoso Reis - Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo
5.jan.2021 - Enterro em Manaus de vítima de covid-19, a professora Jonilza Cardoso Reis Imagem: Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

11/01/2021 15h00

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A OMS alerta que o mundo não deve esperar que uma imunidade de rebanho seja atingida contra a covid-19 em 2021, mesmo com a vacina e sua ampla distribuição no mundo. De acordo com a entidade, esse cenário significa que medidas de restrição, distanciamento e máscaras devem continuar a ser a norma durante todo o ano.

A imunidade de rebanho é atingida quando pelo menos 70% de uma população fica protegida de um vírus. Hoje, nem 10% da população mundial foi contaminada pela covid-19 e, diante dos gargalos na produção de vacinas, a ideia de uma imunização de bilhões de pessoas dificilmente ocorrerá.

A ordem da OMS, portanto, é a de insistir sobre a necessidade de que governos mantenham suas orientações para que distanciamento social seja promovido. "As vacinas vão chegar. Mas precisamos ter paciência e continuar com as medidas de proteção", alertou Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS.

Nos próximos dias, o mundo deve atingir 100 milhões de casos e quase 2 milhões de mortes. "É um marco sombrio", disse Mike Ryan, diretor de operações da OMS. Segundo ele, num primeiro momento a vacina deve ajudar a reduzir a taxa de mortalidade. Num segundo momento, ele acredita que a vacina vai ajudar a garantir um controle do vírus. Mas lembra que alguns governos conseguiram controlar a doença, mesmo sem o imunizante. "Essa doença pode ser significativamente controlada com as medidas que estamos propondo há um ano", disse.

Ryan faz um alerta para governos que começam a ver um salto no número de casos. "Não percam controle. Olha o que ocorreu quando países perderam o controle", alertou. Para ele, a única solução é voltar a agir em medidas de controle, isolamento de casos e quarentenas de pessoas de contato.

Mutação é como substituir jogador no segundo tempo

Outro desafio é o de lidar com a mutação do vírus. Segundo a OMS, o Japão informou sobre a identificação de traços de uma nova variante também. Mas a agência insiste que não existem evidências de que sejam mais severos em comparação ao coronavírus original. "Devemos considerar como se o time oposto tivesse feito uma substituição e colocado um novo jogador no segundo tempo. Trouxeram novos jogadores ao campo. Não muda as regras do jogo. Apenas da mais força aos opositores", disse Ryan.

Para a chefe técnica da OMS, Maria van Kerkhove, não se pode apenas culpar a nova variante pela explosão de casos em alguns países nas últimas semanas. Para ela, o que mudou foi o comportamento da sociedade, com mais contatos e as festas de final de ano.

"A Europa perdeu a batalha por ter tido mais contato", disse. Ela lembra como, em meados de 2020, a taxa de transmissão chegou a níveis extremamente baixos. "Hoje, em alguns países, a curva de expansão é praticamente vertical", lamentou.

Vacinação nos países pobres e campanhas em todos os países em 100 dias

Para a OMS, não há como permitir que a vacinação fique restrita a apenas 40 países, todos eles de renda média ou alta, e que já iniciaram campanhas de imunização.

A meta de Tedros Gebreyesus, diretor-geral da agência, é de que nos próximos 100 dias todos os países tenham iniciado campanhas de vacinação, focados nos trabalhadores de saúde e pessoas mais vulneráveis. Para isso, vai apelar a um acordo global entre empresas e governos.

Bruce Aylward, representante da OMS para a aliança de vacinas, acredita que existe espaço para que a agência comece a vacinar os 90 países mais pobres do mundo a partir de fevereiro. Mas, para isso, alerta que as empresas precisam disponibilizar doses, países ricos devem compartilhar o que têm e os países mais pobres precisam estabelecer planos de imunização. "A situação é inadequada", disse. "A vacina não está indo aos pobres", lamentou.

"Governos precisam criar a maior mobilização de massa do mundo", afirmou Tedros. "Nós podemos ficar cansados de escutar que temos de nos proteger. Mas o vírus não fica cansado. E, quanto mais ele circula, maior a chance de sofrer uma mutação", completou o diretor-geral.