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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Kerry sobre o Brasil: "não é uma questão de confiança, mas de medidas"

John Kerry, enviado especial da presidência dos EUA para o clima, fala em uma entrevista coletiva durante a COP26 - Phil Noble/REUTERS
John Kerry, enviado especial da presidência dos EUA para o clima, fala em uma entrevista coletiva durante a COP26 Imagem: Phil Noble/REUTERS

Colunista do UOL

10/11/2021 10h36

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O representante do governo de Joe Biden para o Clima, John Kerry, deixou claro nesta quarta-feira que a aproximação ao Brasil não se refere a uma questão de confiança, mas estará baseada em medidas concretas que o país tomará para permitir que suas promessas sejam cumpridas.

Kerry se reuniu por 40 minutos em Glasgow com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Ambos participam da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas e o processo negociador entra em seu momento decisivo.

Questionado se poderia confiar no governo brasileiro, ele respondeu: "não se trata de confiança, mas de passos e de medidas concretas que as pessoas tomam".

O americano quer contar com o Brasil para romper uma possível aliança entre os emergentes e que possa impedir a agenda da Casa Branca de ser consolidada no cenário internacional. Mas Biden vem sendo alvo de intensa pressão por parte até mesmo de seu partido para evitar uma aproximação maior com o governo de Jair Bolsonaro.

A ideia da Casa Branca agora é a de continuar o diálogo com o Brasil a partir de garantias de que medidas sejam tomadas para que as metas anunciadas pelo governo nos últimos dias sejam de fato implementadas.

Na reunião, porém, o governo brasileiro pediu cooperação para a transferência de tecnologia e financiamento para poder atender a meta de reduzir as emissões de metano até 2030. Pressionado pelos americanos, o Brasil aderiu ao projeto anunciado em Glasgow no começo da semana passada.

Momentos antes de se encontrar com Kerry, Leite havia cobrado em discurso os países ricos e inverteu o debate sobre a responsabilidade por um acordo na COP26. "É importante que os países desenvolvidos reconheçam a emergência financeira e mobilizem os recursos necessários para atingir os objetivos desejados nesta conferência", disse.

"A meta dos 100 bilhões de dólares não foi cumprida. E este valor já não é mais suficiente para que o mundo construa uma nova economia verde com uma transição responsável", insistiu.

"São necessários volumes mais ambiciosos, de fácil acesso e execução ágil, para que a transformação ocorra de forma inclusiva em cada território ao redor do mundo, prioritariamente em regiões mais vulneráveis em relação a clima e desenvolvimento econômico", declarou.

"Os países que historicamente e atualmente são os responsáveis pelos maiores volumes de poluição da atmosfera devem demonstrar suas efetivas ambições de financiamento nesta conferência, sem postergar ainda mais um compromisso assumido em 2015 e até o momento não realizado em sua plenitude. Todas as partes desta conferência devem assumir suas responsabilidades comum porém diferenciadas na direção de uma economia verde neutra em emissões", disse.

Num esforço ainda para impedir futuras barreiras comerciais contra o Brasil, Leite adotou um discurso de que punir os emergentes não funcionará.

"O desafio global a ser superado é reverter a lógica negativa da punição, da sanção e da proibição, para a lógica positiva do incentivo, da inovação, da priorização. É necessário transformar a agenda ambiental em oportunidade de crescimento econômico e geração de empregos verdes. A partir de uma visão construtiva, encontraremos o caminho para criar o futuro sustentável que desejamos a todos", completou.