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Josias de Souza

Bolsonaro tornou-se imbatível na arte de criar crises

Colunista do UOL

23/04/2020 19h55

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O presidente da República vai acabar sendo incluído nos dicionários como sinônimo de encrenca. Jair Bolsonaro virou um outro nome para crise. Ele se revela imbatível na arte de criar crises. Age de forma metódica. Acredita que a melhor maneira de desfazer as crises que fabrica é criando outras crises, ainda maiores. Bolsonaro agora ameaça novamente demitir o chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Com isso, empurra em direção à porta de saída o ministro da Justiça, Sergio Moro.

Bolsonaro cutuca Moro com o pé para ver se ele morde apenas uma semana depois de enviar para o olho da rua Henrique Mandetta, que deixou a pasta da Saúde com a popularidade nas nuvens. Como se fosse pouco, o presidente desprestigia o seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Permitiu que o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, levasse à vitrine um esboço de plano de recuperação econômica para a fase pós-pandemia sem o aval de Guedes. Parece faltar combustível ao Posto Ipiranga.

Para resumir: Bolsonaro acomodou na Saúde um ministro, Nelson Teich, que não consegue informar com clareza qual é o plano do governo para enfrentar o coronavírus. Enfraquecido, o presidente tenta obter base congressual oferecendo cargos e cofres públicos a prontuários do centrão. Simultaneamente, fustiga Sergio Moro, que virou ministro graças ao prestígio que obteve mandando para a cadeia corruptos como os que se aninham no centrão. De resto, num instante em que o país precisa como nunca estimular investimentos privados, Bolsonaro cria insegurança desprestigiando seu ministro da Economia.

Bolsonaro acha que seu governo é uma coisa. Mas ele já virou outra coisa bem diferente. O controle da Policia Federal é algo que nem os governos de Lula e Dilma ousaram fazer. Michel Temer tentou. E foi rechaçado. Bolsonaro arma o bote apenas 48 horas depois de o Supremo ter autorizado a abertura de inquérito para investigar as origens da manifestação antidemocrática estrelada por ele no último domingo.

Não são movimentos triviais. Eles têm potencial para influir não só nos rumos do governo, mas da própria sucessão de 2022. Não é bom negócio para Bolsonaro abalar suas já precárias relações com Sergio Moro num instante em que as forças de centro procuram um presidenciável.