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Josias de Souza

Bolsonaro inventa demissão 'a pedido' sem pedido

                                DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

11/05/2020 19h55

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Jair Bolsonaro não tramou a intervenção na PF, não pressionou Sergio Moro e não cogitou interferir em inquéritos. O presidente só mentiu um pouco. O depoimento de Maurício Valeixo reforça a atmosfera de falsidade.

Valeixo confirmou que nunca pediu demissão do posto de diretor-geral da PF. A exoneração "a pedido" entra para a história da imprensa oficial como o primeiro caso deliberado de fake news.

De acordo com o delegado, Bolsonaro lhe telefonou para avisar que perdera a cadeira. Informou que a demissão seria publicada como se o demitido tivesse pedido para sair. Coisa de presidente que deseja escamotear suas reais intenções.

O episódio envolveu um segundo logro. O falso pedido de demissão de Valeixo continha a assinatura eletrônica de Sergio Moro, que disse não ter rubricado a peça. Revelada a mentira, o Planalto republicou o ato, sem o nome de Moro. A correção vale como uma confissão de culpa.

Bolsonaro produziu outra prova contra si mesmo ao exibir, na semana passada, diante das câmeras, o complemento de mensagem que havia trocado com Moro. Com isso, dispensou a realização de perícia no WhatsApp divulgado pelo ex-ministro da Justiça no dia em que desembarcou do governo.

Na mensagem, Bolsonaro encaminhou a Moro notícia sobre inquérito que corre no Supremo. Reproduziu o título: "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas". E anotou: "Mais um motivo para a troca."

A troca de Valeixo acabou ocorrendo à revelia de Moro. Não fosse por uma liminar do Supremo, Bolsonaro teria nomeado pessoa com quem tem mais "afinidade": o delegado Alexandre Ramagem, amigo dos seus encrencados filhos, sobretudo do investigado Carlos Bolsonaro.

O inquérito está apenas no começo. Mas respira-se no Planalto uma atmosfera de tranquilidade. Bolsonaro e os membros do seu staff avaliam que, com Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República, o arquivamento está em boas mãos.

Alega-se que não há nada no inquérito capaz de incriminar Bolsonaro. Nada, nesse caso, é uma palavra que ultrapassa tudo.