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Josias de Souza

Governadores concordam com o veto de Bolsonaro a reajustes de servidores

19.05.2020 - Coronavírus: Coveiro no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - Lucas Silva/picture alliance via Getty Images
19.05.2020 - Coronavírus: Coveiro no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus Imagem: Lucas Silva/picture alliance via Getty Images

Colunista do UOL

21/05/2020 03h58

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Em guerra desde março, Jair Bolsonaro e os governadores realizam nesta quinta-feira uma reunião idealizada para selar um armistício. Nela, o presidente sancionará o projeto sobre o socorro de R$ 60 bilhões da União para que estados e municípios enfrentem a crise do coronavírus. Os executivos estaduais concordaram com o veto do trecho que autoriza a concessão de reajustes a várias corporações de servidores. Com isso, todos os aumentos salariais ficarão proibidos até o final de 2021.

O encontro foi precedido de uma intrincada negociação. Os governadores manifestaram o receio de que Bolsonaro aproveitasse a reunião para fustigá-los com temas como a flexibilização da política de isolamento social e o uso indiscriminado da cloroquina no tratamento da covid-19. Foram informados de que o presidente evitará o confronto. Comprometeram-se a responder no mesmo tom, priorizando a Saúde.

Em tempos de pandemia, a reunião ocorrerá no ambiente virtual de uma videoconferência. O ministro Paulo Guedes (Economia) assumiu o papel de algodão entre cristais. Levou a Bolsonaro as apreensões dos interlocutores. E vice-versa. Chegou-se a uma agenda de interesses comuns. Fixou-se, de resto, a pauta de temas que devem ser evitados, para que a conversa não desande.

Como parte do ensaio, 25 dos 27 governadores participaram de uma videoconferência nesta quarta-feira, véspera da conversa com Bolsonaro. Submeteram a voto o tema mais polêmico: o reajuste dos servidores. Houve divisão. Parte dos presentes queria tonificar pelo menos os contracheques de policiais e servidores da Saúde.

Entretanto, o apoio ao veto prevaleceu com folga. E a minoria concordou em respeitar a posição majoritária, abstendo-se de reivindicar os reajustes na reunião com o presidente. Assim, Bolsonaro perderá o último pretexto que poderia invocar para se esquivar do compromisso que assumiu com Paulo Guedes de expurgar os reajustes salariais da proposta de socorro a estados e municípios.

Para fazer média com as corporações, Bolsonaro avalizara os reajustes na fase de votação no Congresso, concluída em 6 de maio. Pressionado por Guedes, assumiu o compromisso público de vetar. Mas vinha emitindo sinais contraditórios. A maioria dos governadores não deseja dividir o ônus do veto com o presidente. O prazo para a sanção do projeto expira nesta quinta-feira. Sem o veto aos reajustes, o ministro da Economia seria carbonizado.

O socorro de R$ 60 bilhões será liberado em três parcelas. Os governadores têm pressa. Reivindicam a liberação dos primeiros R$ 20 bilhões nos próximos dez dias, ainda neste mês de maio. O dinheiro servirá para compensar a perda de arrecadação tributária de estados e municípios nesta fase em que o combate ao coronavírus tem como efeito colateral a anestesia da atividade econômica.

Se conseguirem chegar ao término da reunião sem nenhum bate-boca, Bolsonaro e os governadores produzirão um fato inusitado. Na maioria dos países, os políticos colocaram de lado suas diferenças para combater a pandemia. No Brasil de Bolsonaro, o vírus acentuou as diferenças.

Em março, Bolsonaro promoveu encontros regionais de governadores. A conversa com os representantes dos estados da região Sudeste foi marcada por um bate-boca entre o presidente e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

No ápice da arenga, Doria pediu "serenidade e equilíbrio" a Bolsonaro, para liderar o enfrentamento da crise sanitária. "Mais do que nunca, o senhor precisa comandar, liderar o país e, para isso, vai precisar de muita calma, de muito equilíbrio e de muita serenidade."

As palavras de Doria acionaram a ignição automática de Bolsonaro, que o acusou de se preocupar mais com 2022 do que com o bem-estar dos paulistas: "Se o senhor não atrapalhar, o Brasil vai andar, com certeza. Sai do palanque...".

Dessa vez, Doria disse aos colegas que vai a Brasília "em missão de paz". Para desarmar Bolsonaro, acertou-se que o primeiro governador a falar na reunião será o do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB). Embora seja tucano como Doria, ele mantém com Bolsonaro um relacionamento cordial.

Se o script for seguido, falará na sequência um oposicionista ponderado: Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo. Só então a palavra será repassada a Doria.

Um dos governadores resumiu assim o ânimo do grupo: "Se o tom do presidente for de normalidade de tratamento, o nosso tom também será de paz. É hora de priorizar a saúde. O país espera por isso." A conferir.