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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Eduardo Pazuello vive a síndrome antidarwinista

Jefferson Rudy/Agência Senado
Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

10/10/2021 06h42

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O general Eduardo Pazuello perdeu o cargo de ministro da Saúde. Mas preservou a pose. Escondido atrás de um contracheque de assessor do Planalto, o ex-ministro foi infectado pelo vírus causador da síndrome do antidarwinismo, uma moléstia típica de Brasília. O sujeito inicia a trajetória na Capital como reles bípede. E vai evoluindo até ficar de quatro... De quatro rodas.

Reportagem do Globo noticiou que Pazuello continua usufruindo de um carro oficial com motorista. O veículo é do Exército. Sem máscara, o general foi pilhado embarcando no automóvel por volta de 8h30 da última quarta-feira, defronte do Hotel de Trânsito de Oficiais (HTO), onde mora.

A cena se repetiu na manhã seguinte. Com duas diferenças: Pazuello usava máscara. E o motorista, ao notar a presença da reportagem, estacionou o carro numa saída lateral do hotel, por onde saiu Pazuello.

Ouvido, o Exército confirmou que Pazuello "permanece com a referida viatura à sua disposição". Por quê? "Em razão de ainda não terem sido concluídas as medidas administrativas referentes à sua movimentação para a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República."

A explicação não faz nexo. Abrigado na folha do Planalto há quatro meses, Pazuello era assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Uma reestruturação interna extinguiu o posto. O general manteve o status de assessor da Presidência, com toda a mordomia que o déficit público pode pagar.

Pazuello recebe remuneração mensal de ministro: R$ 39,2 mil, dos quais R$ 31 mil referem-se ao soldo de general de divisão. Num cenário de normalidade, a versão segundo a qual o processo administrativo ainda não foi formalizado transformaria o vaivém funcional do ex-ministro num processo de avacalhação do setor de recursos humanos do Planalto.

Num ambiente tisnado pela marca de 600 mil brasileiros mortos por Covid, a coisa vira um escárnio capaz de colocar em dúvida a própria teoria da evolução da humanidade. Mantido o descalabro, o macaco acabará irrompendo no palco para indagar: Valeu a pena?