Topo

Josmar Jozino

Presa número 1 do sistema carcerário feminino de SP comandou festa do PCC

Cândida Márcia Santana Bispo, 46, é apelidada de "Marcola de saia" - Reprodução
Cândida Márcia Santana Bispo, 46, é apelidada de "Marcola de saia" Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/12/2020 04h03

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A presa Cândida Márcia Santana Bispo, 46, é apontada pela Polícia Civil de São Paulo como a número 1 da ala feminina do PCC (Primeiro Comando da Capital) no sistema prisional paulista. Segundo o MPE (Ministério Público Estadual), ela já passou por presídios da capital e do interior e em todos eles exerceu liderança sobre as demais prisioneiras.

Cândida já ficou presa nas penitenciárias femininas de Sant'Anna, Tupi Paulista, Tremembé 2 e Pirajuí. Agentes penais a chamam de "Marcola de saia", em referência ao líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital). Funcionários garantem que ela tem poder de decisão por integrar a alta cúpula da facção e por ter participado de várias missões a mando da organização. .

Segundo a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), Cândida é condenada a 21 anos, sete meses e 18 dias por formação de quadrilha, associação ao tráfico de drogas e posse ilegal de arma de uso restrito. Está recolhida em regime fechado.

Para o MPE, a liderança de Cândida ficou evidenciada em 31 de agosto de 2015, na Penitenciária Feminina de Sant'Anna, no Carandiru (SP). O PCC completava naquele dia 22 anos de fundação. Segundo a Polícia Civil, Cândida coordenou comemorações do "aniversário" da maior facção criminosa do país.

Na festa havia cocaína, maconha e cachaça. Uma presa filmou o evento com o celular, tão proibido quanto a entrada de drogas nas unidades prisionais. O episódio teve repercussão nacional — 'Foi uma esculhambação", relembrou um agente ao UOL.

Cândida aparece nas imagens fazendo discurso em exaltação ao crime organizado. Ela avisa as presas que não deu tempo para fazer o bolo. Diz também que a quantidade de droga obtida para a festa era pequena e pede às colegas para que cada baseado (cigarro de maconha) seja fumado no mínimo por grupos de três detentas.

Vídeo mostra festa de aniversário do PCC dentro de presídio feminino

Band Notí­cias

As gravações mostram ainda uma bandeja de cocaína. Com uma parte do pó branco, as presidiárias escreveram a frase PCC - 15.3.3 - 22 anos. Os números se referem à sigla da facção. O 15 corresponde a letra P no alfabeto, e o 3, à letra C.

Por causa dessa festa em 2015, Cândida passou a cumprir um ano de castigo no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Ela foi a primeira mulher internada no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, presidio inaugurado em 2002 para abrigar líderes de facções criminosas.

No ano seguinte, 2016, a Justiça a condenou, em primeira instância, a 10 anos por tráfico de drogas e a absolveu da acusação de associação ao tráfico. Em julho de 2017, ela foi absolvida, em segunda instância, das duas acusações.

No segundo julgamento, a Justiça entendeu que "não foi apurado como as drogas foram fornecidas nem como ingressaram no presídio", durante a festa do PCC. Para a Justiça, o fato de Cândida ter participado do evento "não faz dela integrante de organização criminosa".

Cândida participou da construção de túnel para fuga

A defesa de Cândida sustenta que ela foi acusada injustamente, jamais pertenceu ao crime organizado, é inocente, cumpriu castigo no RDD durante um ano sem ter cometido falta disciplinar e que perdeu a saúde física e mental, além de parte da visão por conta das acusações.

A "Marcola de saias", como é chamada por agentes penais, foi condenada em 2009 quando a Polícia Civil a acusou de comandar uma tentativa de resgate de presos da alta cúpula do PCC na Penitenciária 1 de Avaré (SP). A quadrilha liderada por ela comprou uma casa nas imediações do presídio.

O PCC investiu R$ 600 mil na empreitada. O bando cavou um túnel de 160 metros de extensão, da residência até a parte interna da unidade prisional. A obra de engenharia tinha iluminação e ventilação artificial. As escavações terminaram sob um pequeno lago dentro do terreno do presídio e o risco de infiltração de água pôs fim ao plano.

Cândida já poderia estar no semiaberto, não fosse outra acusação: Em dezembro de 2019 foi apontada como mandante das agressões contra uma presa da Penitenciária 2 de Tremembé, Vale do Paraíba. A falta foi considerada grave e o Ministério Público Estadual pediu a interrupção do prazo para obtenção da progressão de regime. Cândida alegou ser inocente.