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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PM da Rota acusado de atirar em mulher baleou homem na mesma rua em 2020

Viatura da Rota, grupo de elite da Polícia Militar - Rivaldo Gomes/Folhapress
Viatura da Rota, grupo de elite da Polícia Militar Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Colunista do UOL

24/03/2021 04h00

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O sargento Marcos Antonio Freire, 47, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar, acusado de atirar em uma mulher e em seguida simular um assalto no último domingo, na rua Guaianazes, Santa Cecília, centro da capital, já havia baleado outra pessoa praticamente no mesmo local, em 3 de maio do ano passado.

Freire estava de folga e foi preso em flagrante na manhã de domingo por tentativa de homicídio. O PM contou no 2º DP (Bom Retiro) que um homem acompanhado por um casal tentou assaltá-lo. Acrescentou que, para tentar cessar a injusta agressão, sacou a pistola Glock calibre 40 da PM e efetuou um disparo.

A delegada de plantão no 2º DP não acreditou na versão do sargento e realizou diligências no local com uma equipe de investigadores. A plantonista percorreu os prédios da região e em um deles, na rua Doutor Elias Chaves, apreendeu uma fita com imagens de câmeras de segurança.

As gravações desmontaram a versão do sargento. O vídeo mostra Freire discutindo com um homem de camiseta vermelha. O sargento dispara e a bala atinge a mulher na região do abdômen.

Segundo a Polícia Civil, nas imagens, o sargento se aproxima dela, abaixa e recolhe um objeto que, segundo a delegada de plantão, poderia ser um cartucho de munição, até agora não encontrado.

A plantonista também localizou uma testemunha que mora na região. A mulher revelou que não presenciou assalto e que foi uma discussão entre dois homens. Segundo a Polícia Civil, eram o sargento e o que usava camiseta vermelha.

Em 3 de maio do ano passado, Freire contou uma história semelhante também no 2º DP, mas para outro delegado de plantão. O sargento estava de folga. Ele caminhava em direção à residência dele, na rua Guaianazes, quando dois homens passaram a segui-lo.

Freire disse que atravessou a rua e a dupla continuou a segui-lo. Segundo o sargento, um dos homens estava armado e anunciou o assalto. O PM afirmou que, para se defender, sacou a pistola Glock calibre 40 da Polícia Militar e atirou duas vezes.

Moradores em situação de rua

Os tiros acertaram a perna esquerda de Adilson Tepedino Júnior, 44. A arma dele era um simulacro (réplica). De acordo com o sargento, o outro homem correu. O morador em situação de rua Fábio Gonçalves de Oliveira, 30, foi preso por policiais militares nas imediações.

Em depoimento à Justiça, Adilson, à época também morador em situação de rua, admitiu ter tentado roubar o sargento. Ele alegou que estava transtornado e sob efeito de drogas e, por causa do vício, queria praticar o assalto. Afirmou também que estava sozinho e que não conhecia Fábio.

Em 25 de setembro de 2020, a Justiça condenou Adilson a dois anos e nove meses de prisão em regime fechado. Fábio foi absolvido por falta de provas. Porém ficou preso quatro meses no CDP 2 (Centro de Detenção Provisória) do Belém, na zona leste da capital.

Policiais civis suspeitam que as pessoas baleadas pelo sargento Freire são moradores em situação de rua da região da Cracolândia. O PM da Rota vivia no mesmo bairro antes de ser preso. Até a noite de terça-feira (23), a mulher ferida pelo policial militar não havia sido encontrada.

Procurado pelo UOL, o advogado do PM Marcos Antonio Freire não quis se manifestar. A Polícia Civil informou que o sargento continua recolhido no Presídio Militar Romão Gomes.