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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Porto de Antuérpia é número 1 para envio de cocaína de 'Escobar brasileiro'

O ex-policial militar Sérgio Roberto de Carvalho, 62, conhecido como Major Carvalho - Reprodução/Ministério da Segurança Pública
O ex-policial militar Sérgio Roberto de Carvalho, 62, conhecido como Major Carvalho Imagem: Reprodução/Ministério da Segurança Pública

Colunista do UOL

19/01/2022 04h00

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O porto de Antuérpia, na Bélgica, é o mais escolhido pelo bando comandado pelo ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, 63, o "Escobar brasileiro", um dos maiores narcotraficantes do mundo, para enviar toneladas de remessas de cocaína à Europa.

Autoridades belgas apreenderam no ano passado 90 toneladas de cocaína no porto de Antuérpia, procedentes da América do Sul. No porto de Roterdã, na Holanda, o segundo na preferência do Major Carvalho, foram encontradas outras 70 toneladas. Ambas as apreensões foram consideradas recordes.

Além do Major Carvalho, outros grandes traficantes brasileiros ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), como os foragidos da Justiça André Oliveira Macedo, 47, o André do Rap, e Suaélio Martins Lleda, 56, começaram em 2013 a exportar em contêineres carregamentos de drogas com destino ao porto belga.

Documentos sigilosos da Polícia Federal aos quais a reportagem teve acesso mostram que das 69 tentativas de envios de drogas da quadrilha do "Escobar brasileiro" para a Europa, entre os anos de 2017 e 2020, 14 tinham como destino final o porto de Antuérpia.

Em todos esses eventos, a cocaína foi apreendida ou no Brasil ou na Bélgica.

Em segundo lugar na escolha do Major Carvalho para exportar droga ao Velho Continente aparece o porto de Roterdã, na Holanda. E foi justamente naquela país que um importador de cocaína ligado ao "Escobar brasileiro", identificado como Stefaan Bogaerts, foi assassinado.

cocaína - 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal - 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal
Tabletes de cocaína em meio a carga de café verde, tipo arábica, a granel, que iria para o porto de Antuérpia (Bélgica) e foram apreendidos em Santos, em dezembro de 2019
Imagem: 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal

O crime aconteceu em 21 de setembro de 2017, duas semanas após a apreensão de 780 kg de cocaína no Porto de Paranaguá, no Paraná. Bogaerts foi morto com tiros de fuzil. Ele sofreu emboscada enquanto aguardava a chegada de um homem com quem teria marcado uma reunião.

O carro usado pelos assassinos foi encontrado carbonizado minutos depois do crime. Segundo as autoridades holandesas, o homicídio tinha características de execução praticada por mafiosos e relacionada ao narcotráfico, ou seja, ao não recebimento da droga apreendida no Brasil.

Os 780 kg de cocaína estavam escondidos em meio a uma carga de tubos no contêiner TOLU8964155. Investigações realizadas pela Polícia Federal no Paraná concluíram que o carregamento e a exportação da droga foram coordenados pelo Major Carvalho.

Foi a partir do porto de Paranaguá que o "Escobar brasileiro" e seus comparsas tentaram exportar 49 toneladas de cocaína para a Europa nos últimos três anos. A Polícia Civil calcula que o Major Carvalho movimentou R$ 2,25 bilhões no período.

A documentação da Polícia Federal também mostra que além de Antuérpia e Roterdã, os outros portos europeus escolhidos pelo Major Carvalho para exportar cocaína são os de Leixões (Portugal); Barcelona (Espanha); Livorno e Gioia Tauro (Itália), Hamburgo (Alemanha) e Le Havre (França).

Lavagem de dinheirol

As investigações da PF apontam ainda que o Major Carvalho lavou parte do dinheiro arrecadado com o tráfico de drogas até com a importação para o Brasil de milhões de materiais de combate à covid, como revelou esta coluna, em primeira mão, em reportagem publicada na última quinta-feira (13).

Segundo a Polícia Federal, o Major Carvalho fretou na China o Boeing 747-400F, de 400 toneladas, com 10 milhões de máscaras de proteção contra o coronavírus, além de materiais hospitalares também chamados de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual.)

A aeronave pousou no dia 11 de junho de 2020 no aeroporto internacional de Florianópolis e foi recebida com festa por empresários e políticos. Era o auge da pandemia. Havia 25 anos que um Boeing desse porte não aterrissava em Santa Catarina.

Agentes federais encontraram em documentos judiciais e em um telefone celular apreendido com a irmã do Major Carvalho, indícios de que o "Escobar brasileiro" tentou fechar com o governo de São Paulo a importação de 36 milhões de máscaras de proteção, avaliadas em R$ 104,4 milhões.

De acordo com os federais, a negociação só não deu certo porque houve atraso na entrega dos produtos e a nota de empenho foi cancelada pelo governo paulista.

O "Escobar brasileiro" é considerado um dos maiores narcotraficantes do mundo. Ele é dono de empresas - inclusive aérea - e imóveis de luxo em Portugal, Espanha e Emirados Árabes. Há suspeitas de que ele esteja escondido na Europa com uma amante brasileira e naturalizada espanhola.

Uma mulher apontada pela Polícia Federal como a secretária-executiva do Major Carvalho está presa em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ela foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público Federal pelos crimes de associação ao tráfico de drogas e organização criminosa.