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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Bolsonaristas querem culpar centrão por mudanças no Ministério da Defesa

General Walter Braga Neto quando era interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro (RJ) - Fátima Meira/Estadão Conteúdo
General Walter Braga Neto quando era interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro (RJ) Imagem: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

30/03/2021 17h29

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Aliados do presidente Jair Bolsonaro já possuem uma versão para tentar amenizar a crise gerada pelas mudanças no Ministério da Defesa e pela inédita entrega dos cargos dos três comandantes das Forças Armadas nesta terça-feira (30). Militares bolsonaristas estão tentando acalmar os ânimos dos colegas dizendo que as trocas ocorreram somente porque os partidos do centrão teriam cobrado espaço no ministério.

Nessa versão, a história é de que, para atender o pedido, já que Bolsonaro não teria aceitado o nome apontado para o Ministério da Saúde, foi pedida a Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov). Com a saída do general Luiz Eduardo Ramos da Segov, chegou a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), com indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira.

A história está sendo difundida em diferentes círculos de militares e a coluna viu algumas mensagens nesse sentido no grupo de Whatsapp da turma de 1980 da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). É dessa turma o general Marco Antônio Freire Gomes, o nome mais bem quisto por Bolsonaro para ocupar o comando do Exército no lugar do general Pujol.

"Para eles tirarem o Ramos de lá, eles tinham que fazer um jogo político. Tirar o ministro da Defesa, para colocar um novo ministro e abrir a vaga do Ramos. Isso foi um jogo político"
"Eles (centrão) estão para apoiar Bolsonaro, mas tem um preço caro. Mas vai ficar na chantagem eternamente, até o fim do governo. Então é um erro de Bolsonaro", disse um coronel dessa turma aos colegas.

O general Marco Antônio Freire Gomes, atualmente no Comando Militar do Nordeste, também possui o problema de ser um dos mais "modernos" no Exército e ter outros seis generais mais antigos na Força do que ele. Uma nomeação dele para o comando do Exército representaria uma quebra da hierarquia, que é uma base importante para todos os militares, como a disciplina.

Para um colega dele na turma de 1980, a possibilidade de nomear o general Freire Gomes é muito complexa. "Torrar seis (generais) na frigideira é muito arriscado", escreveu. Alguns acreditam que o nome do general José Luiz Freitas, Comandante de Operações Terrestres, pode prevalecer, ele é da turma de 1979.

Já no grupo, porém, alguns colegas ensaiaram mensagens de apoio a uma eventual nomeação de Freire Gomes. "No posto de general, mais que isso, o critério é de escolha. De modo que são incertos, tanto o alcance, como a permanência e o momento da saída do posto, sendo esta a maior certeza. Muito mais se houver escolha pelo Presidente da República para ministro da Defesa. Se alguns serão preteridos, é bom lembrar que a maioria de nós o foi; e não estamos cuspindo marimbondo por aí: é a regra do jogo; sempre foi", escreveu outro coronel. "Nas Forças Armadas, ninguém tem qualquer razão para se rebelar contra um general que eventualmente ocupe o posto de Ministro da Defesa", emendou.

Mais adiante, outro coronel lembrou o fato de o general Braga Neto, novo ministro da Defesa, ser mais novo no Exército do que os comandantes que entregaram os cargos hoje. "Diriam que militares não aceitam isso de outro militar, mas já aceitaram se submeter a ministros sabidamente corruptos, ladrões, ideologicamente contrários aos nossos princípios e a democracia, pessoas sem qualificações mínimas para o cargo", afirmou aos colegas. "Acho que o respeito a lei e humildade, nesse momento, acredito seria muito mais adequado do que interesses contrariados ou a não aceitação de alguém da casa", completou.