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Pressão de Trump para reabrir escolas pode criar ninhos de coronavírus

Com decisão de Trump, universidades e escolas vivem o dilema: ou retomam as aulas apesar do risco sanitário ou mantêm as medidas contra a pandemia e perdem seus alunos internacionais - Getty Images
Com decisão de Trump, universidades e escolas vivem o dilema: ou retomam as aulas apesar do risco sanitário ou mantêm as medidas contra a pandemia e perdem seus alunos internacionais Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

09/07/2020 14h22

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Depois de transformar o uso da máscara e o incremento dos testes de covid-19 em questões políticas, deixando em segundo plano os aspectos sanitários, o presidente Donald Trump deu início a uma nova batalha com tintas de guerra cultural: reabrir as escolas do país até o início do outono no Hemisfério Norte (22 de setembro).

Se tiver êxito, o movimento do presidente americano tende a repetir o fracasso da reabertura prematura da economia. Especialistas alertam para o potencial explosivo de reunir estudantes e professores em ambientes fechados quando chegar a estação na qual aumentam doenças respiratórias.

A pandemia de coronavírus continua se agravando nos EUA. Na média nacional, a curva de novos casos continua subindo. Na terça, foram registrados 60.021. Na quarta, foram 59.445.

Em alguns estados, a boa notícia é que a curva começou a entrar num platô. Isso significa diminuição ou estabilização do ritmo de crescimento de novos casos de covid-19. Mas o lado ruim é que o platô está num patamar elevado.

Depois de atingir a casa dos 30 mil casos por dia em abril, a curva da pandemia entrou num período de estabilização em torno de 20 mil ocorrências ao longo do mês de maio. Em meados de junho, teve início a subida íngreme que chegou ao patamar atual. Uma estabilização no intervalo de 50 mil a 60 mil novos casos por dia seria péssima notícia.

Especialistas avaliam que, se não houver medidas drásticas para controlar a pandemia em julho e agosto, o quadro em setembro será desastroso, com falta de leitos de UTI e elevação da taxa de mortalidade por dificuldade de cuidar de tantas pessoas doentes ao mesmo tempo.

Nesse contexto, Trump prometeu pressionar governadores a reabrir a escolas no outono. Manifestou desagrado com orientações elaboradas por um órgão do seu próprio governo, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). E falou publicamente que discordava de Anthony Fauci, o principal imunologista que integra a força-tarefa da Casa Branca, sobre a reabertura das escolas e a taxa de mortalidade por covid-19.

As diretrizes do CDC, que não são obrigatórias, preveem manter as crianças distantes dois metros umas das outras, uso de máscaras e fechar espaços como cantinas. Há escolas que planejando funcionar parcialmente, com alguns dias de aula presencial e outros via internet.

Trump pressiona as escolas públicas a retomar suas atividades do jeito que der, um movimento parecido com o que fez para forçar a reabertura a economia em maio. Ameaçou até cortar fundos de escolas que não voltarem às aulas. O governo também determinou que estrangeiros que farão seus cursos somente via internet devem estudar dos seus países, num movimento visto como uma forma de pressão para que as universidades deem aulas presenciais a fim de manter essas pessoas nos EUA.

Como crianças e jovens tendem a ser mais assintomáticos do que os adultos, a reabertura de escolas e universidades de forma prematura poderá transformar esses locais em verdadeiros ninhos de coronavírus. Na reta final das eleições de 3 de novembro, agravar um quadro pandêmico já delicado seria mais um erro de Trump a jogar contra a sua permanência na Casa Branca por mais quatro anos.