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Biden e Harris mostram química e empatia em 1º ato de campanha juntos

Joe Biden e Kamala Harris fazem primeira aparição juntos após nomeação de Kamala como vice de Biden - Olivier DOULIERY / AFP
Joe Biden e Kamala Harris fazem primeira aparição juntos após nomeação de Kamala como vice de Biden Imagem: Olivier DOULIERY / AFP

Colunista do UOL

12/08/2020 19h02

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A dupla Donald Trump e Mike Pence tem com o que se preocupar. No primeiro ato de campanha lado a lado, Joe Biden e Kamala Harris mostraram que possuem uma boa química mesmo em tempos de distanciamento social. Na tarde desta quarta-feira, Harris foi a Wilmington, cidade onde Biden vive no estado de Delaware.

Os dois democratas entraram no palco com máscaras e fizeram discursos fortes. Biden disse que Harris já havia se provado como "lutadora" e a descreveu como "pronta para fazer o trabalho [de governar o país] desde o primeiro dia".

Num discurso de 18 minutos, Biden afirmou que tinha uma companheira com experiência no Congresso para "consertar a bagunça" que Trump e Pence fizeram doméstica e internacionalmente.

Com um sorriso e tom de voz carismáticos, Harris discursou durante outros 18 minutos. Disse que estava pronta para trabalhar. Afirmou que votar em Biden nas eleições de 3 de novembro é "ter a chance de escolher um futuro melhor para o nosso país".

Num momento em que usou tom mais emocional, ela mencionou a amizade com Beau Biden, ex-procurador-geral do estado de Delaware e filho do ex-vice-presidente que morreu em 2015 devido a um câncer no cérebro.

Harris serviu como procuradora-geral da Califórnia na mesma época em que Beau ocupava cargo semelhante em Delaware. Segundo Harris, Beau "inspirava as pessoas a ser uma versão melhor delas mesmas" e que, ao indagá-lo sobre essa habilidade, ouviu que ele aprendera isso com o pai.

Coube a Harris dizer que "vidas negras importam", lembrar que as mulheres devem ter o direito de tomar decisões sobre o seu próprio corpo e mencionar a importância da luta de jovens nas ruas contra a violência policial e o racismo estrutural.

Ela bateu duro em Trump, quase sempre mencionando o vice-presidente Mike Pence. Afirmou que a incompetência de Trump piorou os efeitos da pandemia e da crise econômica nos Estados Unidos. Segundo ela, Trump falhou ao não ter levado o coronavírus a sério desde o começo.

Ao final dos discursos, entraram no palco a mulher de Biden, Jill, e o marido de Harris, Doug, que poderá ser o "primeiro segundo-cavalheiro dos Estados Unidos".

Para um evento com liturgia pandêmica, Biden e Harris entregaram uma imagem de parceria muito mais quente e afinada do que a dupla Trump-Pence. Há empatia real entre os dois democratas, que serão formalizados como candidatos a presidente e vice na convenção nacional da semana que vem, em Milwaukee, Wisconsin.

Nos seus discursos, Biden e Harris transmitiram uma imagem de mudança com segurança, algo fundamental para atrair eleitores mais conservadores que temem transformações radicais na sociedade americana.

A mensagem de mudança com segurança tem potencial para complicar os planos de reeleição de Trump. Toda a estratégia do presidente passa por pintar Biden como refém de uma agenda da esquerda radical do Partido Democrata. O republicano insinua que o "dorminhoco Joe", apelido que usa nas redes sociais para se referir ao democrata, seria um presidente fraco.

Ao reagir à escolha de Kamala Harris, Trump a retratou como uma mulher desagradável, que disse coisas duras para Biden durante um debate no ano passado e que apertou um indicado seu para a Suprema Corte (Brett Kavanaugh) em audiência no Senado. A ideia foi criar intriga entre Biden e Harris na largada, mas parece que a tática não vai funcionar levando em conta a sintonia demonstrada pelos dois democratas.

A dupla Biden-Harris inaugura uma nova fase do Partido Democrata, que estava dividido ao longo dos últimos meses e agora se mostra unido para enfrentar Trump.

Biden, 77 anos, representa a velha geração do Partido Democrata. Tentou concorrer à Presidência duas vezes e fracassou. Conquistou a indicação em 2020 devido ao perfil moderado, o mais apropriado para tentar buscar votos que estiveram com Barack Obama em 2008 e 2012, mas migraram para Trump em 2016.

Ao escolher Harris, 55 anos, Biden faz uma conexão com a nova geração de democratas em ascensão de uma forma altamente ousada do ponto de vista simbólico. Ele escolheu a primeira afro-americana a disputar a vice-presidência, uma filha de imigrantes (mãe indiana e pai jamaicano) que fez carreira jurídica e política de sucesso e uma mulher articulada e forte que atuou com segurança no ambiente machista do Senado americano.

A escolha de Biden por Harris não é pouca coisa num país conservador que viu a juventude ir às ruas protestar contra o racismo estrutural e a violência policial de um modo que se pode ser comparado ao movimento pelos direitos civis dos anos 60.

Mas Harris é uma progressista com alguma dose de conservadorismo. Seu histórico como procuradora-geral do Estado da Califórnia lhe rendeu elogios por jogar duro contra o crime, o que deve ajudar a amenizar temores de setores mais conservadores dos EUA.

Biden fez a escolha que pode criar mais dores de cabeça para Trump. Ele disse que o atual presidente "tem problema com mulher forte", referindo-se à companheira de chapa. A imprensa já especula ansiosamente sobre o debate entre os vices, apostando que Kamala Harris vai jantar Mike Pence com farofa.