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Preso nos EUA, Bannon é mais importante para o bolsonarismo do que Olavo

17.mar.2019: Ao lado de Steve Bannon, presidente Jair Bolsonaro acompanha o discurso do embaixador brasileiro nos EUA, Sérgio Amaral - Alan Santos/PR
17.mar.2019: Ao lado de Steve Bannon, presidente Jair Bolsonaro acompanha o discurso do embaixador brasileiro nos EUA, Sérgio Amaral Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

20/08/2020 12h20

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A prisão de Steve Bannon, o principal estrategista da eleição de Donald Trump, tem efeito negativo para o presidente Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele é acusado de desviar recursos de uma campanha na internet para arrecadar fundos a fim de construir o muro entre EUA e México, uma das principais promessas de campanha de Trump.

Bannon é um guru do bolsonarismo muito mais importante do que o escritor de extrema direita Olavo de Carvalho, uma figura algo escatológica que tem perdido peso nos rumos do governo brasileiro. A campanha de 2018 que alçou Bolsonaro ao poder foi inspirada na estratégia elaborada para eleger Trump dois anos antes.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro teve encontros com Bannon durante a eleição brasileira. Todo o arsenal bolsonarista de fake news, manipulações da realidade e jogo sujo na internet é "made in USA (feito nos EUA)".

Bannon foi preso na manhã desta quinta-feira sob a acusação de desviar mais de US$ 1 milhão de uma campanha na internet para obter doações a fim de financiar a construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México. Investigadores mapearam o uso de empresas de fachada no exterior para emitir faturas e acobertar o desvio de recursos. Além de Bannon, outras três pessoas foram presas a pedido do Ministério Público de Nova York.

Obvimente, a prisão de Bannon causa dano a Trump a pouco mais de dois meses das eleições de 3 de novembro. Mais uma pessoa próxima a ele aparece envolvida em corrupção. Bannon foi assessor sênior de Trump na Casa Branca. Há, pelo menos, nove aliados ou ex-auxiliares do presidente americano suspeitos de falcatruas.

O "pai da polarização"

Mas interessa aqui iluminar os efeitos sobre o Brasil. Bannon é o pai da estratégia de ataques permanentes a adversários, estimulando conflitos para enfraquecer as instituições democráticas a fim de pavimentar caminho para a ascensão da extrema direita em diversos países. Ele ajudou Bolsonaro a vencer em 2018 e inspirou a sua forma de governar.

Em 17 de março do ano seguinte, num jantar na embaixada do Brasil em Washington, Bannon foi o convidado de honra. Sentou-se ao lado de Bolsonaro. Olavo de Carvalho também estava lá.

Naquela noite, Bolsonaro disse, ecoando uma estratégia elaborada por Bannon: "O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz".

O presidente resumiu a estratégia de Bannon, seguida por ele no Brasil e pelo Itamaraty no exterior. O chanceler Ernesto Araújo conseguiu a proeza de destruir anos de credibilidade da política externa apenas seguindo os ditames de Bannon.

Ironicamente, um dos gurus do bolsonarismo foi pego pelas autoridades quando fraudava justamente o esquema para arrecadar recursos a fim de construir o muro entre os EUA e o México, promessa que Trump não conseguiu tirar do papel. Enquanto no Brasil penamos para investigar a "rachadinha" e suas ramificações milicianas, os procuradores de Nova York descobriram uma "rachadona" que ajudou a encher os bolsos do guru americano de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo.