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Leonardo Sakamoto

Desdém de Bolsonaro pela covid tornou Brasil indesejado nos EUA e na Europa

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores diante da bandeira dos Estados Unidos - Andre Borges/NurPhoto via Getty Images
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores diante da bandeira dos Estados Unidos Imagem: Andre Borges/NurPhoto via Getty Images

Colunista do UOL

23/06/2020 16h44

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A União Europeia analisa manter o bloqueio à entrada de pessoas oriundas de países que ainda enfrentam grave crise sanitária por conta do coronavírus, como os Estados Unidos e o Brasil. O jornal The New York Times teve acesso ao rascunho das listas de nações cujo ingresso de cidadãos deve ser permitido no bloco a partir de 1º de julho, quando as fronteiras devem ser reabertas a estrangeiros após o pico do surto de coronavírus.

Considerando que os EUA bloquearam a entrada de qualquer um que tenha pisado aqui, com exceção de seus próprios cidadãos, de corpo diplomático e de Abraham Weintraub, pode-se dizer que a União Europeia está preocupada com o descontrole sanitário de Donald Trump, que - por sua vez - está preocupado com o descontrole sanitário de Jair Bolsonaro. Com o agravante que a Europa também está preocupada com o descontrole de Bolsonaro. Somos o denominador comum, ou seja, somos a raspa descontrolada do tacho global.

O Times cita que chineses e cubanos estariam na lista dos permitidos por seus países terem controlado a pandemia.

A decisão ainda não está tomada porque o bloqueio norte-americano teria um impacto grande nas receitas vindas de turistas e viajantes de negócios, do qual a Europa é extremamente dependente. Mas, quanto aos brasileiros, esquece. Pelo menos no curto prazo.

O governo Donald Trump é líder do mundo em mortes (120 mil) e casos (2,3 milhões) por coronavírus. Jair Bolsonaro governa o país que está em segundo lugar - 51.502 e 1.117.430, respectivamente - em ambos os quesitos.

O jornal diz que tanto Trump quanto Jair Bolsonaro e o russo Vladimir Putin tomaram decisões semelhantes no enfrentamento à pandemia, "desdenhando da crise em seu início, demorando a responder aos conselhos científicos e, com isso, viram um boom de casos domésticos enquanto outros lugares conseguiram controlar seus surtos".

Países foram considerados seguros pela União Europeia tomando como base sua própria situação epidemiológica: o bloco ostenta 16 novas infecções por 100 mil pessoas, em média, nos últimos 14 dias. Segundo o jornal, a Rússia apresenta 80, os EUA, 107, e o Brasil 190.

Vale ressaltar que a imprensa global, de direita ou esquerda, considera o presidente brasileiro como o pior chefe de governo no combate à covid-19 e um risco sanitário global.

Até Trump, sua referência pessoal, nos citou como exemplo negativo por causa dele. "Se você olhar para o Brasil, eles estão passando por um momento muito difícil. A propósito, eles estão seguindo o exemplo da Suécia. A Suécia está passando por um momento terrível. Se tivéssemos feito isso, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez até 2,5 milhões ou mais de vidas", disse em coletiva nos jardins da Casa Branca no dia 5 de junho.

Em seu comício em Tulsa, no sábado (20), ele voltou a dizer que a tática bolsonarista de forçar a economia a continuar funcionando fez água. "O que há de errado em ter de fechar? Nós salvamos milhões de vidas. Sabe, muitas pessoas dizem que nós deveríamos ter adotado a imunidade de rebanho: 'vamos adotar a imunidade de rebanho´. Perguntem como estão no Brasil. Ele [Bolsonaro] é um grande amigo meu. Não está bom".

Se no ano passado, a imagem internacional do Brasil era a de imensas nuvens de queimadas, transformando o dia em noite na Amazônia, agora são as fotos de valas coletivas onde caixões são enterrados em grupo.

Nossos vizinhos também têm medo de nós. Argentina, Uruguai, Paraguai, entre outros de nossa imensa fronteira terrestre, estão apreensivos com a possibilidade de colocarmos a perder o que conquistaram, seguindo recomendações científicas e não achismos no combate à pandemia..

É como se um país inteiro estivesse marcado por uma praga. E, honestamente, a praga não é o coronavírus.