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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Centrão, evangélicos e, agora, ruralistas: Bolsonaro quer sua base no STF

Colunista do UOL

06/10/2021 18h17

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Jair Bolsonaro afirmou à bancada ruralista, nesta quarta (6), que a sua reeleição pode garantir um Supremo Tribunal Federal com quatro ministros alinhados tanto às pautas dele quanto às desse grupo de parlamentares.

Desde que assumiu, o presidente tornou ministro Kassio Nunes Marques, nome que agradou o centrão, e indicou André Mendonça, para satisfazer os evangélicos. O ex-chefe da Advocacia Geral da União está tomando um chá de cadeira para sua sabatina no Senado Federal, mas deve ser confirmado. Agora, Bolsonaro afirma que, se eleito, vai colocar alguém alinhado à defesa dos interesses dos ruralistas.

Ou seja, o presidente vai nomeando pessoas não para defender a Constituição, mas para agradar os grupos que estão em sua base de apoio. Nesse sentido, qual será o quarto nome? Alguém ligado aos militares ou aos milicianos?

É natural que presidentes da República, de forma discreta, busquem indicar ao STF pessoas que acreditem serem capacitadas para o cargo e simpáticas a eles e suas posições. Como um ministro vira dono de seu nariz após tomar posse, essa busca nem sempre isso dá certo - Lula e Dilma descobriram isso de forma amarga. Mas Bolsonaro faz questão de escrachar que suas indicações vão no sentido de deixar o Brasil mais à sua imagem e semelhança.

"Quem se eleger presidente no ano que vem, indica mais dois para o Supremo. Se for alinhado conosco, dez! Ficam quatro garantidos lá dentro. Além de outros que já votam... Não é que votam com a gente, votam com as pautas que têm que ser votadas do nosso lado. Então, vamos ter tranquilidade por parte do Judiciário", disse a membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Palácio do Planalto.

Em 2023, ocorrerá a aposentadoria compulsória por idade dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber.

Para reforçar seu ponto, Bolsonaro disse que Nunes Marques votou a favor da tese do marco temporal, o que prejudica o direito de indígenas de verem reconhecidos seus territórios e vai ao encontro dos interesses de muitos ruralistas. E afirmou que Mendonça, quando confirmado, fará o mesmo.

"Essas pautas ele [Nunes Marques] está conosco, tanto é que ele empatou o jogo com o Fachin: 1 a 1, no marco temporal. O André Mendonça, uma vez aprovado pelo Senado, vai na mesma linha", afirmou.

É o Bolsonaro candidato à reeleição em plena campanha? Sem dúvida. Mas não só.

Desde que assumiu, Bolsonaro trabalha para propagar a ideia de que o interesse dos indivíduos é sempre mais importante do que o bem-estar da coletividade. Isso não vale a todo o indivíduo, contudo, apenas para o seu "povo escolhido", ou seja, os grupos que o apoiam, que fazem parte dos 15% que acreditam em tudo o que ele diz ou dos que estão, hoje, com ele por conveniência.

Entre eles, estão grupos de garimpeiros, madeireiros e agropecuaristas, de líderes religiosos ultraconservadores, de empresários que desejam fazer o que quiserem sem ser importunados pela CLT, de políticos do centrão interessados em levar vantagem, milicianos e parte da banda podre das Forças Armadas e das polícias, entre outros.

Em comum entre eles, o desejo de agir sem serem incomodados pelas leis e regras que evitam que isso seja a terra de ninguém.

Bolsonaro tenta implementar um país em que as normas que balizam a vida em sociedade sejam deixadas de lado em nome da lei do mais forte, ou melhor, do mais armado ou do mais rico. E ao invés do Poder Judiciário ser o responsável por julgar eventuais embates, ele quer assumir essa função.

Não à toa, sequestrou ou domesticou instituições de monitoramento e controle nos últimos dois anos, atingindo área do Coaf, da Receita Federal, do Ibama, do ICMBio, do Incra, da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República e do Congresso Nacional. Como não conseguiu o mesmo com o STF e o TSE, vai para cima com seus seguidores.

Dissemina, dessa forma, um projeto de sociedade miliciana, onde a Justiça é trocada pelo justiciamento. Um projeto em que as instituições atestam o que o "líder supremo" diz diretamente para o povo ou precisam ser emparedadas.