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Reinaldo Azevedo

O atleta imune Bolsonaro, Olímpiada e maior quarentena da Terra na Índia

 Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, anuncia adiamento da Olimpíada;  Narendra Modi, seu homólogo da Índia, impõe a maior quarentena da Terra: 1,3 bilhão de pessoas em casa por três semanas. No mesmo dia, Bolsonaro, o gênio do planeta, pede que brasileiros saiam às ruas ou se juntem à vontade - Fotos: Charly Triballeau/Reuters; ANI
Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, anuncia adiamento da Olimpíada; Narendra Modi, seu homólogo da Índia, impõe a maior quarentena da Terra: 1,3 bilhão de pessoas em casa por três semanas. No mesmo dia, Bolsonaro, o gênio do planeta, pede que brasileiros saiam às ruas ou se juntem à vontade Imagem: Fotos: Charly Triballeau/Reuters; ANI

Colunista do UOL

25/03/2020 08h39

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O pronunciamento de Bolsonaro foi redigido com a ajuda de Carlos, seu filho, e membros do tal Gabinete do Ódio, que é aquela súcia acoitada no Palácio do Planalto para produzir agressões e fake news nas redes sociais. O discurso não é apenas criminoso à medida que incita as pessoas a sair às ruas, a se reunir e a espalhar o vírus. É também essencialmente mentiroso. E uma das mentiras mais espantosas vem somada à tentativa de se apresentar como um super-homem.

Pela primeira vez na história dos pronunciamentos, um presidente decide glorificar os próprios dotes físicos. Afirmou:
"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão".

O valente fez essa afirmação no dia em que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, confirmou que pediu ao Comitê Olímpico Internacional (COI) o adiamento de um ano da Olimpíada de Tóquio, que estava programada para o dia 24 de julho. A autoridade esportiva aceitou, e a competição foi postergada para 2021.

Sim, claro, um dos objetivos é impedir que milhares de pessoas se desloquem para o Japão. Mas comitês olímpicos do mundo inteiro já expressaram a sua preocupação com a saúde dos atletas, que, obviamente, não são imunes ao coronavírus e podem contrair bem mais do que um "resfriadinho".

Na fala, notem que há, mais uma vez, um ataque indireto e covarde ao médico Drauzio Varella, fazendo alusão mentirosa a um vídeo seu sobre o coronavírus, gravado bem antes de o país apresentar o primeiro caso. O objetivo é inflamar as redes sociais. A propósito: não fosse o risco de contaminar outras pessoas e de pressionar o sistema de saúde, os bolsonaristas poderiam se reunir à vontade para celebrar, entre iguais, o vírus.

Bolsonaro manteve em sigilo o conteúdo do pronunciamento. Nem os ministros que despacham no Planalto tiveram acesso ao dito-cujo — o que, de resto, é um incentivo à indisciplina.

A ÍNDIA
Não há governante no mundo que chegue perto da indigência moral e intelectual de Bolsonaro -- nem mesmo o também irresponsável López Obrador, presidente do México, populista de esquerda, que resiste a tomar medidas mais duras para conter a expansão da doença.

Enquanto Bolsonaro incitava os brasileiros a desobedecer às orientações da ciência e do próprio Ministério da Saúde, Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, decretou, atenção!!!, três semanas de quarentena para todos os habitantes da Índia. Determinou que 1,3 bilhão de indianos fiquem em suas casas. Afirmou:
"Para salvar a Índia e todos os indianos, vai haver uma proibição total de saídas de suas casas. Se o país fracassar no controle do coronavírus nos próximos 21 dias, poderá ficar 21 anos atrasado".
Reitere-se: não é uma recomendação para não sair às ruas. Trata-se de uma proibição.

Modi botou em quarentena forçada 1,3 bilhão de pessoas por causa de 469 casos de Covid-19 e 10 mortes. O Brasil, com menos de um sexto da população da Índia, tinha, nesta terça, 2.201 doentes e 46 mortos. E seu grande líder decidiu que é hora de retomar a vida normal.

Sim, Bolsonaro faz algumas apostas. Todas perigosas. Tratarei do assunto ao longo desta quarta.