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Reinaldo Azevedo

Farsa de Palocci contra BTG Pactual e Lula é desmoralizada pela própria PF

Antonio Palocci: o delator "prêt-à-porter" tem sempre uma acusação pronta, na ponta da língua, para satisfazer a demanda. E, claro, o alvo é sempre o samba de duas sílabas só: LU-LA - Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo
Antonio Palocci: o delator "prêt-à-porter" tem sempre uma acusação pronta, na ponta da língua, para satisfazer a demanda. E, claro, o alvo é sempre o samba de duas sílabas só: LU-LA Imagem: Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

17/08/2020 06h42

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Continuar, hoje em dia, a ser um adorador do lavajatismo não é mais uma questão de viés interpretativo ou de escolha por um modo particular de combater a corrupção, que poderia ser truculento, mas, vá lá, legal e eficaz. Truculento é. Legal e eficaz nunca foi. Estamos diante de uma questão de caráter — e de mau-caratismo mesmo. A que me refiro?

A peça de ficção criada por Antonio Palocci, a que alguns chamam de delação premiada, tem 23 anexos, que vão gerando inquéritos. Um desses investigou supostos vazamentos para o banco BTG Pactual — que teriam ocorrido entre 2010 e 2012 — do conteúdo de reuniões do Copom. Segundo Palocci, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipava ao banco, comandado por André Esteves, a decisão que seria tomada pelo comitê, o que permitiria à instituição, de posse de informações privilegiadas, fazer apostas certeiras no mercado.

Para tanto, seria usado o fundo de investimentos Bintang, que era, de fato, administrado pelo BTG, mas cuja direção nunca pertenceu ao banco. Ah, sim: em troca desse servicinho, o banco de Esteves administraria uma conta secreta cujo beneficiário seria, ora, ora, ninguém menos do que Lula.

Ah, não! A acusação de Palocci não saiu de graça para o BTG Pactual. No dia 3 de outubro do ano passado, o banco foi alvo de um mandado de busca e apreensão no âmbito da operação Estrela Cadente. As ações chegaram a cair quase 10%, recuperando-se depois, quando ficou claro que o BTG não tinha o comando do Bintang.

O QUE ESTÁ CLARO AGORA?
Relatório do inquérito aberto para apurar o caso, concluído pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Feres Daher no dia 11 deste mês e enviado ao MPF, conclui que as acusações feitas por Palocci "foram desmentidas por todas as testemunhas, declarantes e por outros colaboradores da Justiça".

Daher escreve um troço que deveria levar certo jornalismo à reflexão:
"As notícias jornalísticas, embora suficientes para iniciar o inquérito policial, parece que não foram corroboradas pelas provas produzidas, no sentido de dar continuidade à persecução penal".

O delegado afirma ainda que não há evidências nem de que o BTG comande o fundo Bintang nem de que este tenha obtido benefícios em razão de informação privilegiada. Da mesma sorte, não surgiu nenhum indício de que o BTG administrasse alguma conta tendo Lula ou o PT como beneficiários.

Notem: o MPF havia se negado a fazer um acordo de delação com Palocci. Quem se encarregou de fechar o dito-cujo foi a Polícia Federal, e a homologação foi feita pelo TRF-4. É aquele tribunal federal de segunda instância que endossa todas as sentenças da 13ª Vara Federal de Curitiba contra Lula e ainda majora a pena.

Louve-se, note-se, a coragem do delegado Marcelo Feres Daher. Não se deixou arrastar pela mistificação. Resolveu se comportar como deve ser: policial de investigação, não de condenação.

OUTRA "PALOCCIADA" CONTRA O BTG
Por incrível que pareça, o BTG tinha sido alvo de outro mandado de busca e apreensão no dia 23 de agosto do ano passado, com um pouco mais de um mês de diferença. E também por causa de Palocci. O ex-ministro acusou o BTG de comprar a preços subfaturados ativos da Petrobras na África. Como contrapartida, teria feito doações pelo caixa dois ao PT e, claro!, ao próprio Lula. Entendam: todas as acusações do ex-ministro são um samba de duas sílabas só: LU-LA!

Pois bem! Também essa acusação não prosperou. Mas o banco chegou a ter uma perda, em valor de mercado, no prazo de uma semana, de R$ 10,8 bilhões. Recuperou-se depois. Pergunta-se: até quando esse tipo de picaretagem será considerada corriqueira no país?

A BARBEIRAGEM DE 2015
No dia 5 de dezembro de 2018, o STF arquivou outra investigação contra Esteves. Ele havia sido acusado em 2015 pelo então senador Delcídio Amaral de ser o potencial financiador de uma possível e mirabolante fuga de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Esteves foi preso em 25 de novembro de 2015 e ficou 28 dias em Bangu 8. A sua foto com roupa de presidiário foi publicada à farta.

O Supremo reconheceu que tinha havido um erro grotesco, que Esteves nunca estivera envolvido em nada parecido, como admitiu o próprio Ministério Público, e a investigação foi arquivada.

O BTG Pactual é uma das mais sólidas instituições financeiras do país. Mas, é claro, sofreu prejuízos em todas essas investidas. Tanto a prisão de seu principal executivo como os mandados de busca e apreensão miravam mais o escândalo e as manchetes do que a elucidação dos fatos.

A título de curiosidade: cotejem o espaço que se deu à prisão de Esteves e o dado ao arquivamento da investigação. Comparem o destaque dado aos mandados de busca e apreensão com o pedido agora feito pelo delegado.