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Reinaldo Azevedo

Sta. Catarina: Entidades judaicas repudiam silêncio de governadora interina

General Luiz Eduardo Ramos, Jair Bolsonaro e a agora interina Cristina Daniela Reinehr. Ainda como vice, fez parte do movimento de desestabilização do governador, que caiu em desgraça com o presidente por não ser um reacionário delirante - Reprodução
General Luiz Eduardo Ramos, Jair Bolsonaro e a agora interina Cristina Daniela Reinehr. Ainda como vice, fez parte do movimento de desestabilização do governador, que caiu em desgraça com o presidente por não ser um reacionário delirante Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

29/10/2020 08h10

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Daniela Cristina Reinehr, governadora interina de Santa Catarina, negou-se a responder se corrobora as ideias do pai, Altair Reinehr, admirador confesso do nazismo e um negacionista do Holocausto Judeu. A pergunta lhe foi feita durante a posse por um repórter do site The Intercept Brasil, mas ela deu uma resposta pavorosa. Ou melhor: uma não resposta. Foi procurada de novo pelo jornal O Globo. E, mais uma vez, absteve-se de repudiar o horror. Antes, a Folha já a havia indagado a respeito. E só veio o silêncio.

Nesta quarta, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Israelita Catarinense (AIC) emitiram uma nota conjunta na qual pedem que a governadora interina "rechace as ideias negacionistas de seu pai". Leiam:

"A governadora deve, de forma veemente, manifestar sua repulsa ao negacionismo da tragédia que foi o Holocausto. É importante que ela se pronuncie sobre o assunto e demonstre de forma inequívoca sua rejeição às ideias que levaram ao extermínio de 6 milhões de judeus inocentes, além de outras minorias e adversários políticos e provocaram uma guerra que devastou a humanidade"

O texto é assinado por Fernando Lottenberg, presidente da Conib, e Sergio Iokilevitc, presidente da AIC.

Relembro a pergunta do TIB e a resposta:

TIB:- No começo de sua fala, a senhora agradeceu à sua família. E o seu pai, como professor de história, pregava em sala de aula o negacionismo do Holocausto Judeu, inclusive utilizando livros de uma editora que foi condenada por contar mentiras sobre a Segunda Guerra Mundial. E, agora que a senhora é governadora de Santa Catarina, a gente quer saber: qual é a sua posição? A senhora corrobora essas ideias neonazistas, negacionistas do Holocausto?

DANIELA CRISTINA: "Eu espero, daqui para a frente, e em toda a história, ser julgada pelos meus atos, pelas minhas convicções e pela postura que eu sempre tive em tudo o que eu fiz. Eu realmente não posso responder, ser julgada ou condenada por aquilo que esse ou aquele pense (sic). Eu respeito as pessoas, independente do seu pensamento, eu respeito os direitos individuais e as liberdades. E qualquer regime que vá contra o que eu acredito, contra esses elementos que eu disse, eu repudio. Existe uma relação e uma convicção que move a mim, e eu acredito que a todos os senhores, que chama 'família'. E me cabe como filha manter a relação familiar em harmonia, independente das diferenças de pensamento, indiferente das defesas (sic). Eu sou uma pessoa que, como vocês, tem problemas, que tem diferenças no seu meio familiar, que sofre, que chora, que sorri, que vibra, mas que procura dar o seu melhor para cumprir a missão que me foi conferida pelo voto dos catarinenses. Eu realmente espero que eu seja julgada novamente, que os atos sejam apartados, como foi na Comissão Mista. Eu não quero ser arrastada por atos de terceiros, por convicções de terceiros. As minhas convicções estão muito claras nas redes sociais há muito tempo. Aliás, tem muito pouco de mim, do meu particular, mas tem muito do meu pensamento, do meu ativismo, e eu realmente peço que sejam apartados os atos e que eu seja julgada e avaliada pelo que eu faço, não por atos de terceiros".

JUDEUS PELA DEMOCRACIA
A organização Judeus pela Democracia escreveu no Twiiter:
Daniela Reinehr diz que deve ser julgada por suas convicções e não as de seu pai (assumido nazi), mas, até agora, não as expôs. Quando perguntada, foge. É antinazista? Nega o holocausto? Fato é que hoje, no Brasil, a governadora é incapaz de responder diretamente as perguntas acima".

HOMENAGEM EM ISRAEL
Não é segredo para ninguém que existe grande proximidade entre o bolsonarismo e alguns de seus extremistas de direta e a gestão do primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu. Nesse caso, como em todos, não se deve confundir o governo com o Estado e o povo.

Pois bem: em novembro de 2018, a agora governadora de Santa Catarina, na condição de vice-governadora eleita, viajou àquele país numa comitiva do PSL. O evento foi promovido por uma tal "Comunidade Internacional Brasil & Israel".

No país, consta, recebeu a medalha "Israel 70 anos" e o título de Embaixadora Extraordinária da Paz.

Longe de mim querer definir quem Israel homenageia ou deixa de homenagear. De toda sorte, depois do que se viu na terça-feira, quem deve e quem não deve receber medalhas do governo israelense?