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Reinaldo Azevedo

Segundo a A&M, Moro desenvolverá "políticas antifraude e corrupção". Certo!

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/12/2020 07h47

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A Alvarez & Marsal é um desastre de comunicação. Emitiu nesta quarta mais uma nota de obscurecimento, como se esclarecimento fosse, sobre a contratação de Sergio Moro. Lá se lê:
"Na A&M, Moro vai atuar na área de 'Disputas e Investigações'. O foco do trabalho será ajudar empresas clientes no
desenvolvimento de políticas antifraude e corrupção, governanças de integridade e conformidade e políticas de compliance. O novo ofício não envolve serviços de advocacia, que estão fora do escopo da empresa de consultoria".

Ai, ai... Não será com Moro que a A&M vai ganhar sapiência no manejo da inculta e bela. Há um erro ali, mas que assume, digamos sentido simbólico. Afirma-se que o foco do trabalho de Moro será o "desenvolvimento de políticas antifraude e corrupção".

Não existe prefixo plenipotenciário que valha para mais de uma palavra. Suponho que tenham tentado escrever "antifraude e anticorrupção". Mas ficou bom como está. Termos coordenados podem, com raras exceções, ter alterada a sua ordem sem mudança de sentido. Se o fizermos nesse caso, ficará assim. "O foco do trabalho [de Moro] será o desenvolvimento de corrupção e políticas antifraude".

Essa desordem na comunicação tem razão de ser. É impossível dar uma explicação razoável para a contratação. Ao se optar pelo idioma da embromação, acabam acontecendo essas coisas. Não é primeira trapalhada.

No texto em que anunciou a contratação de Moro, a A&M escreveu esta outra preciosidade:
"Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco, lavagem de dinheiro e crime organizado
, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa. Sua contratação reforça o time da A&M formado por ex-funcionários de governos".

O doutor foi juiz e ministro da Justiça antes de ser um milionário sócio-diretor. A sua especialidade em "aconselhar clientes" foi adquirida de que modo? Ele tinha clientes enquanto era funcionário do Estado brasileiro?

Nesse texto do anúncio, há outra afirmação fabulosa:
"Tanto como ministro quanto como juiz federal, Moro colaborou com autoridades de países da América Latina, América do Norte e Europa na investigação de casos criminais internacionais relacionados a suborno, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e crime organizado"

É mesmo? Quer dizer que, quando juiz, o doutor passava por cima do Poder Executivo — no caso, Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores — e se relacionava com autoridades de países mundo afora para "investigar casos criminais"? Como se nota, ele nem precisou ganhar uma eleição para se comportar como governo.

Agora, na A&M, segundo a empresa, vai se dedicar ao "desenvolvimento de políticas antifraude e corrupção".

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura.