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Reinaldo Azevedo

Crivella: a cadeia é o desfecho do que a política do Rio produziu de pior

Marcelo Crivella ao chegar à Polícia. No camburão, Rafael Alves, o todo-poderoso da Prefeitura, embora não ocupasse cargo nenhum - Reprodução/TV Globo
Marcelo Crivella ao chegar à Polícia. No camburão, Rafael Alves, o todo-poderoso da Prefeitura, embora não ocupasse cargo nenhum Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

22/12/2020 08h08

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Leiam o que informa O Globo. Volto em seguida:

A três dias do Natal e a nove do fim de seu mandato, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Bezerra Crivella (Republicanos), foi preso na manhã desta terça-feira. O político era investigado em um inquérito que ficou conhecido como o QG da Propina — um esquema de corrupção que acontecia dentro da prefeitura. Além de Crivella, foram presos Rafael Alves, homem de confiança do prefeito e apontado como operador do esquema, e o delegado aposentado Fernando Moraes. O ex-senador Eduardo Benedito Lopes também é alvo ação que é comandada pela Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (CIAF) e pelo Ministério Público estadual, mas não foi encontrado em casa. A decisão é da desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita.

Os investigadores chegaram pouco antes das 6h à casa de Crivella, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Quatro carros com policiais e promotores pararam no local. Crivella foi levado para a Cidade da Polícia, na Zona Norte.

"Isso é uma perseguição política. Lutei contra todas as empreiteiras, tirei recursos do pedágio, do Carnaval, é isso é perseguição. Quero que se faça justiça", disse Crivella logo após a prisão.

Revelada com exclusividade pelo GLOBO em dezembro, a investigação QG da Propina teve como alvo o governo Crivella e está baseada na colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo no ano passado.

Na delação, homologada pelo Tribunal de Justiça do Rio, Mizrahy se referiu a um "QG da propina" dentro da Riotur e apontou Rafael Alves, homem de confiança do prefeito, como operador do suposto esquema.

O doleiro afirmou na delação que Rafael Alves se tornou um dos homens de confiança de Crivella ao articular doações para sua campanha eleitoral de 2016. Ele ainda contou que Alves emplacou o irmão na presidência da Riotur e viabilizou "a contratação de empresas para a prefeitura e o recebimento de faturas antigas em aberto, deixadas na gestão do antigo prefeito Eduardo Paes, tudo em troca de pagamentos de propina".
(...)

RETOMO
Ao chegar à Polícia, numa rápida entrevista, Crivella afirmou que tudo não passa de perseguição política. O principal aliado do presidente Jair Bolsonaro no Rio, no entanto, não disse quem o persegue e por quê.

Como de hábito, não me comporto como juiz em momentos assim. Quem conhece o riscado no Rio sustenta que a coisa por ali é feia e que o tal Alves virou uma eminência parda da gestão de Crivella.

A prisão é um desfecho estrepitoso para aquela que é, sem dúvida, a pior administração que teve o Rio de Janeiro na história. Crivella não está sendo preso por isso, é certo. Mas, se fez ao menos parcela do que lhe atribuem, é claro que os malfeitos contribuíram para o desastre.

Não é por acaso que seu sucessor eleito simulou, como afirmei aqui, uma espécie de Frente Ampla no Rio. Até a página "Eu Odeio Eduardo Paes" declarou voto em... Eduardo Paes.

Incompetência não leva à cadeia. Levasse, Crivella mereceria passar o resto dos seus dias em cana. Mas essa é uma questão que o eleitor resolve com o voto. Se escolhe mal, colhe desastres. É o caso.

As acusações, no entanto, são bem mais graves. E atingem em cheio um medalhão do que a política brasileira pode produzir de pior: incompetência assombrosa, reacionarismo delirante e populismo vulgar. Essa soma de atrasos vem temperada, de resto, pela politização da fé, transformada numa máquina de caçar votos.

A receita desandou.

Crivella era o que Bolsonaro tinha nos planos para a população da cidade do Rio.

Que a coisa toda tenha, ao menos, do ponto de vista político, um efeito didático.