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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Sem Maia, DEM é satélite de Bolsonaro; superpopulação do centro fica menor

Rodrigo Maia e ACM Neto: não acabou bem a relação do ex-presidente da Câmara com o partido que já chegou a presidir. Legenda caiu no colo de Bolsonaro - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Rodrigo Maia e ACM Neto: não acabou bem a relação do ex-presidente da Câmara com o partido que já chegou a presidir. Legenda caiu no colo de Bolsonaro Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

15/06/2021 08h12

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A expulsão do deputado Rodrigo Maia (RJ) do DEM devolve, agora também na simbologia, o partido à sua natureza, mas não àquela de uma direita que rompeu com a ditadura para apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, dando origem ao PFL. Maia tem razão quando diz que o partido recicla a sua ancestralidade arenista — referência à Arena, o partido do regime militar.

O período marcado pela ascensão de Maia ao pelotão de frente da política coincidiu com um revigoramento do DEM, que havia chegado bem próximo da extinção. Não sei, não... O partido volta a dar passos largos rumo ao fim. O compromisso com a irrelevância está definitivamente firmado.

Qual é hoje a cara da legenda? ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, é seu presidente. Elegeu, é verdade, seu sucessor, mas viu João Roma (Republicanos), um afilhado seu, integrar a linha de frente do ministério bolsonarista. O suposto rompimento político entre ambos não convenceu nem os baianos. Na disputa pela Presidência da Câmara, ACM Neto se juntou a Arthur Lira (PP-AL) alegando que era isso o que queria a sua base. Não fez nenhum esforço para que fosse diferente.

A face mais visível do partido hoje é o senador Marcos Rogério (DEM-RO), capaz de dizer e de fazer coisas na CPI da Covid que o transformam numa caricatura do reacionarismo mais abjeto. Fosse verdade que ACM Neto quer uma agremiação realmente liberal, identificada com uma centro-direita moderna, seria o caso de ele próprio pedir a desfiliação.

O DEM se reduziu a um ninho de reacionários bolsonaristas. Com raras exceções, os quadros obedecem às ordens do presidente da República. Se tal comando coincide com as postulações de Neto ou é porque este pensa a mesma coisa — e, pois, é papo-furado a conversa de que se distingue dos reaças — ou é porque já não comanda, mas é comandado.

CANDIDATURA EM 2022
O destino do DEM na eleição de 2022 parece definido. A eventual candidatura de Luiz Henrique Mandetta à Presidência pelo partido se tornou uma peça de ficção. Já vinha sendo enterrada todos os dias pela impressionante capacidade que o tal Marcos Rogério tem de dizer asneiras. E Neto, como se sabe, também já anunciou seu rompimento político com João Doria depois da migração de Rodrigo Garcia, vice-governador de São Paulo, para o PSDB.

O que restou ao partido além de ser linha auxiliar de Bolsonaro? Acho pouco provável que o ex-prefeito de Salvador, que Maia chama "Torquemada Neto", ambicione a vaga de vice de Bolsonaro. Se a vaga for dada a um nome partidário, algumas facções do centrão têm a preferência. Parece que Neto mira mesmo é o governo da Bahia, esperando contar com o apoio de Bolsonaro.

Maia já havia pedido a desfiliação, caminho para evitar eventual judicialização de seu mandato. A expulsão é uma espécie de retaliação. Duvido que o partido tente tomar o seu mandato. Se o fizer, é pouco provável que seja bem-sucedido uma vez que as dissensões se tornaram mais do que públicas.

Vejam como a população de "pré-candidatos de centro" já diminuiu. Luciano Huck resolveu ficar na Globo mesmo. Ninguém mais fala sobre esse assunto. João Amoedo, do Novo, já anunciou que está fora da disputa. E a óbvia bolsonarizada do DEM impede o lançamento de Mandetta — a menos que o ex-ministro mude de partido, mas as opções, hoje, parecem estreitas.

Ciro Gomes (PDT) resolveu, por ora, investir no voo solo, à espera de aliados, fazendo um discurso com o megafone voltado para o público à sua direita. Há sinais de desconforto no PDT, mas nada indica, até agora, que vá escolher outro caminho. E, parece certo, o PSDB terá mesmo candidato. Por enquanto, fala-se em possíveis prévias entre João Doria e Eduardo Leite. Mas voltemos ao ponto.

Para onde vai Maia? Eduardo Paes, prefeito do Rio, seu aliado, migrou para o PSD. É provável que o deputado siga o mesmo caminho. Gilberto Kassab, presidente da legenda, já afirmou que gostaria de ver surgir uma terceira via. Mas quem?

O partido é uma unidade na diversidade. Reúne lulistas, bolsonaristas, centristas e enigmáticos. Não haveria escolha capaz de unir a legenda em defesa de um único nome. Mas o estilo de Kassab não solta a mão de ninguém, não importa a escolha que o aliado faça. Hoje, vejo um PSD mais próximo da candidatura de Lula do que da de Bolsonaro.