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Ronilso Pacheco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Anajure, evangélicos e voto impresso: o que resta a Bolsonaro

23.mai.2021 - Presidente Jair Bolsonaro durante passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro - Alan Santos/Presidência da República/Divulgação
23.mai.2021 - Presidente Jair Bolsonaro durante passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro Imagem: Alan Santos/Presidência da República/Divulgação

03/07/2021 04h00

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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está derretendo politicamente. As imagens de suas carreatas e "motociatas" e o compartilhamento, por parte de seus apoiadores, de vídeos seus chegando em cidades sendo recebido por uma "multidão" não condizem com a realidade nas pesquisas e na fragilidade do seu governo.

Definitivamente, mais de meio milhão de mortos pela pandemia de covid-19 custou muito caro a Bolsonaro, que não pode mais apagar ou fazer desaparecer as dezenas de registros de seu pouco caso com o coronavírus quando ainda era possível fazer alguma coisa.

Então Bolsonaro tenta olhar para 2022 e ver a si mesmo em um segundo mandato. O que parecia que estava garantido, nunca esteve tão ameaçado. Assim, a batalha pelo voto impresso se tornou uma obsessão do presidente e seu governo. Agora fala-se em "voto auditável", para que o apelo se torne mais atrativo.

Com isso, ele espera reunir forças para tumultuar o debate politico brasileiro em defesa do voto impresso. E a maior força que Bolsonaro tem hoje ao seu lado para tornar a pressão pelo voto impresso um recurso para deixar o caminho aberto para levar uma possível derrota para o tapetão são os evangélicos.

Para isso, o presidente parece ter compreendido o papel fundamental que uma organização evangélica pode exercer lá na frente, quando esta batalha se acirrar política e juridicamente: a Anajure (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos).

A Anajure ganha cada vez mais espaço no governo e este apoio tem se tornado fundamental. Embora ciente da dependência da capacidade de mobilização e persuasão de lideranças fundamentalistas como Malafaia e R. R. Soares, Bolsonaro entende que a Anajure é importante para a trincheira jurídica, além de servir com "suporte" para a trincheira popular, no campo evangélico.

Grande parte da batalha do voto impresso irá orbitar no campo jurídico, da legitimidade, e no campo popular, com adesão ou resistência à ideia. A Anajure pode conectar os dois, e o governo conta com isso. A associação tem relações estreitas com diversas áreas do governo, em movimentos que quase sempre são sutis e estratégicos.

A Anajure tem trânsito livre e potencial de influência sobre o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que é pastor presbiteriano; o secretário especial de Modernização do Estado, Sergio Queiroz, pastor batista; o titular da Defensoria Pública da União, Daniel Pereira; e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

No último dia 24 de junho, Bolsonaro nomeou, também acolhendo indicação da associação, a advogada Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro para a vaga de ministra substituta no Tribunal Superior Eleitoral.

A Anajure também mirou o Tribunal Superior do Trabalho, indicando o subprocurador-geral e evangélico Manoel Jorge e Silva Neto. No entanto, Bolsonaro nomeou o procurador baiano Alberto Balazeiro como o novo ministro do TST.

Mas a "batalha do voto impresso" que vem pela frente, pode levar Bolsonaro a dar a Anajure a vitória em seu projeto mais ambicioso, que é influenciar na escolha do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal que substituirá Marco Aurélio após sua saída —ainda neste mês de julho.

A Anajure publicou (como sempre faz com nomes indicados pela associação) o apoio ao nome do ex-ministro da Justiça e atual titular da Advocacia-Geral da União André Mendonça (também pastor presbiteriano e próximo da associação). No plano jurídico, as peças vão ocupando seus lugares chave.

No campo popular, Bolsonaro espera que a Anajure dê o suporte e o respaldo de informações legais necessárias para que lideranças evangélicas bolsonaristas mobilizem suas bases de igrejas e rebanhos para duvidarem do voto eletrônico e exigirem a "transparência" do voto impresso.

Acuado e com um governo que vai se demonstrando tão enlamaçado quanto acusou governos anteriores, Bolsonaro sabe que sua base evangélica será determinante para demonstrar fôlego. Por outro lado, a Anajure tem plena ciência de que o governo Bolsonaro parece ser a conjuntura política mais favorável para que seu fundamentalismo teojurídico se mantenha forte e influente.