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Rubens Valente

Bolsonaro queria trocar chefia na PF por suspeitar 'espionagem' da esquerda

Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante reunia?o com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. - Marcos Corrêa/PR
Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante reunia?o com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

13/05/2020 17h48Atualizada em 13/05/2020 21h19

O presidente Jair Bolsonaro reclamou com o então ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) sobre a nomeação da delegada da Polícia Federal Carla Patrícia Cunha no cargo de superintendente da PF de Pernambuco, em dezembro passado, porque ela havia exercido uma função comissionada no governo estadual. O Executivo pernambucano é governado por Paulo Câmara (PSB-PE), de um partido que integra a base de oposição ao governo federal no Congresso.

Fontes ouvidas pela coluna, que pediram para não ter os nomes divulgados, disseram que Bolsonaro suspeitava de "espionagem" do governador do PSB, o que foi negado na época pelo então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.

O assunto da superintendência pernambucana foi citado em uma frase no depoimento prestado pelo general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ouvido pela PF nesta terça-feira (12). Quando o ministro falava sobre a suposta preocupação de Bolsonaro com a "produtividade" das superintendências da Polícia Federal "em outros Estados além do Rio de Janeiro", o ministro disse que "percebeu a preocupação do presidente [Jair Bolsonaro] com a SR/PE [Superintendência Regional de Pernambuco], com uma suposta ligação entre a superintendente e o governo do Estado".

Embora tenha dado essa informação, que indica uma motivação política de Bolsonaro contra a delegada, Heleno não foi mais indagado sobre o assunto, de acordo com o termo do depoimento. Não foi instado a explicar qual seria o problema da "suposta ligação" entre a delegada e o governo estadual e qual a relação disso com o tema da "produtividade".

No depoimento que prestou à PF na segunda-feira (11), Valeixo disse ter explicado a Moro, quando surgiu a dúvida, que a delegada Carla, embora tivesse exercido o cargo de corregedora da (Secretaria de Defesa Social), órgão da área de segurança pública do governo Paulo Câmara de 2017 a 2019, era um quadro técnico e experiente da Polícia Federal.

Carla foi escolhida pelo então diretor-geral e tomou posse como superintendente em dezembro de 2019. Segundo Valeixo, ela já havia sido delegada regional de combate ao crime organizado na Superintendência da PF em Pernambuco e, no período de sua gestão, "houve mais operações especiais naquele Estado".

Valeixo contou ainda à PF que a pressão para a troca de Carla, verbalizada por Moro, foi "menos contundente" que a exercida para a troca da Superintendência do Rio de Janeiro. A coluna apurou que as pressões vinham do próprio Bolsonaro até Moro. No fim, tanto Moro quanto Valeixo contornaram as pressões e Carla foi mantida no cargo, no qual permanece até hoje.

A coluna encaminhou perguntas à delegada Carla Patrícia, por meio da assessoria de comunicação da Superintendência da PF no Recife (PE), mas não houve um retorno até o fechamento deste texto. Quando e se a resposta for enviada, o texto será atualizado.