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Thaís Oyama

Lula e Bolsonaro têm muito em comum

O ex-presidente Lula: hábitos tão parecidos -
O ex-presidente Lula: hábitos tão parecidos

Colunista do UOL

23/07/2020 11h15

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Lula tem um filho que, até os 28 anos de idade, era monitor de zoológico e ganhava R$ 600 por mês. No primeiro ano de mandato presidencial do pai, ele já havia virado um gênio do mercado de games, a ponto de sua então recém-aberta empresa receber uma injeção de R$ 15 milhões de uma concessionária pública (os valores são de época).

Dois dos filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o deputado Eduardo Bolsonaro, não parecem menos dotados. De acordo com a declaração de bens apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2018, Eduardo aumentou seu patrimônio em 432% desde 2014, e Flávio, em 55% desde 2010. Juntando as casas e apartamentos comprados pelos Bolsonaros no período, dá quase para montar um condomínio fechado.

Também como Lula, Bolsonaro se diz perseguido pela imprensa e pela Justiça, e assim como o petista, correu para os braços do Centrão quando viu a água bater na cintura. No caso de Lula, a tormenta veio em 2005 e foi batizada de mensalão.

No caso dos Bolsonaros, foi mais um veio de água que correu sob a terra até brotar na forma de uma mina singelamente apelidada de "rachadinha".

Mas lá na ponta, os dois episódios se encontram, senão no Código Penal e nos valores, ao menos no conceito: ambos tratam de desvio de dinheiro público na direção do próprio bolso.

Mas Lula e Bolsonaro têm mais em comum.

Companheiros que ficaram pelo pelo caminho

Dizia-se do petista que não hesitava em abandonar aliados no caminho se fosse para salvar a própria pele. Seus ex-ministros e fieis companheiros Antonio Palocci e José Dirceu foram os exemplos mais gritantes.

Nesse ponto, a lista de Jair Bolsonaro, com um ano e meio de mandato, já é bem mais extensa.

Incluem Gustavo Bebianno e Julian Lemos — ex-aliados de primeira hora, seguranças e financiadores do ex-deputado de baixo clero que era motivo de escárnio quando dizia pretender disputar a Presidência (a família de Bebianno, morto em março deste ano, até hoje espera uma palavra de pêsames do "capitão"); o general e ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, que caiu em desgraça quando insistiu em aplicar na prática o discurso ético que o amigo de 30 anos fazia na campanha; mais Joice Hasselman e um punhado de deputados menos votados que defenderam Bolsonaro no Congresso com unhas, dentes e cotoveladas, mesmo à custa de uma derrama de seguidores nas redes.

Agora, chega a vez da não menos devotada deputada Bia Kicis — leal defensora do presidente e responsável, entre outras coisas, pela aproximação de Bolsonaro com seu posto Ipiranga.

Bolsonaro poderia ter ao menos telefonado, diz Bia Kicis

Bia Kicis, segundo ela mesma, soube que tinha sido chutada do cargo de vice-líder do governo no Congresso pela imprensa, depois de seu afastamento ter sido publicado em edição extra do Diário Oficial.

A deputada negou se sentir traída, mas admitiu ter ficado "perplexa e surpresa" com a forma como teve seus serviços dispensados pelo presidente. E deixou escapar: "Ele poderia ter ao menos me telefonado".

Assim como já tinha feito com os também deputados aliados Otoni de Paula e Daniel Silveira, Bolsonaro se livrou de Bia Kicis para cavar espaço para os seus novos amigos do Centrão — o bloco que, espera, irá blindar seu mandato, ajudá-lo a fazer o novo presidente da Câmara e abrir caminho para a sua reeleição.

Bolsonaro, como Lula, demonstra não ver problemas em abandonar aliados na estrada desde que os corpos sirvam para acolchoar seu caminho.

O ex-capitão faria bem em lembrar que, no terreno da traição, o Centrão tem muito mais chão do que ele.