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Thaís Oyama

Guedes está certo: não há debandada no seu ministério (por enquanto)

O ministro Paulo Guedes: tudo tem limite. E o teto de gastos é um deles - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O ministro Paulo Guedes: tudo tem limite. E o teto de gastos é um deles Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

28/07/2020 12h03

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O ministro Paulo Guedes foi forçado a vir a público negar que houvesse uma "debandada" em sua equipe econômica depois de ela sofrer a terceira baixa importante em menos de trinta dias.

Desde julho, deixaram o barco do ministro da Economia o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida; o diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda, Caio Megale; e o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes.

À negativa da existência de uma fuga em massa de sua pasta, Guedes acrescentou o dispensável comentário de que, "na média, a equipe está subindo". Não é uma frase propriamente elogiosa para os dissidentes, mas para sorte do ministro, ao menos dois entre os três demissionários não deram bola para ela.

O que Paulo Guedes disse é fato, não há debandada no ministério — por enquanto.

Mansueto Almeida havia planejado deixar o governo no começo do ano para trabalhar na iniciativa privada, mas decidiu adiar a saída por causa da crise do coronavírus.

Caio Megale, que tem família em São Paulo e estava cansado de ficar na ponte aérea, já queria deixar Brasília desde o ano passado, mas Guedes conseguiu segurá-lo, tirando-o da Secretaria de Produtividade e fazendo dele seu diretor na Fazenda.

Outros técnicos seguiram o mesmo rumo. Marco Cavalcanti, por exemplo, ex-adjunto do Secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, também saiu porque tem família no Rio e não aguentava mais ficar na ponte aérea.

O caso de Rubem Novaes foi o único inesperado. Tido como impulsivo, o ex-presidente do Banco do Brasil é bastante ativo nas redes sociais e arrumou briga com representantes do Congresso, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Contas da União.

Novaes sempre esteve alinhado com Bolsonaro e ainda falta ao ex-dirigente do BB explicar o que quis dizer com a declaração de que sai por não ter se adaptado à "cultura de privilégios, compadrio e corrupção de Brasília".

As baixas de agora foram, portanto, motivadas por decisões pessoais, e não por supostos ventos populistas que estariam começando a soprar na direção do ministério para desgosto de liberais-raiz.

Mas...

Ninguém no ministério de Guedes é ingênuo a ponto de garantir que esse vento jamais irá soprar por lá.

Diz um interlocutor do ministro: "Se o Planalto sentir que a reeleição está em risco, pode, sim, partir para uma guinada populista".

E, sem dar nome aos bois, até porque o maior deles todo mundo conhece, completa: "Mesmo porque há gente no governo que não vê problema em aumentar o gasto público e acha que seria melhor não ter teto de gasto.

Nesse caso, Guedes ficaria?

"Isso o Paulo não topa, não. Tem uma linha que ele não topa ultrapassar. Se o governo quiser ultrapassar essa linha, ele sai".

Não há, portanto, debandada no ministério da Economia neste momento.

E, em termos de garantia para o futuro, isso significa exatamente o que parece: nada.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Caio Megale é diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda, e não secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia.