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Thaís Oyama

O preço do arroz despertou os instintos mais primitivos de Bolsonaro

O ministro da economia, Paulo Guedes: como professor, reprovado - REUTERS/Adriano Machado
O ministro da economia, Paulo Guedes: como professor, reprovado Imagem: REUTERS/Adriano Machado

Colunista do UOL

10/09/2020 10h29

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No seu quarto mês de governo, em abril do ano passado, Jair Bolsonaro soube que a Petrobras iria aumentar o preço do diesel. Não teve dúvidas. Passou a mão no telefone e ligou para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, ordenando o cancelamento do reajuste. As ações da petroleira caíram mais de 8%.

Paulo Guedes teve de correr para pagar o incêndio. Trancou-se com o chefe em seu gabinete para uma aula de emergência. O tema: "motivos pelos quais um presidente da República não deve querer controlar o preço dos combustíveis do seu país".

À saída da reunião, o ministro declarou aos jornalistas que o presidente havia "entendido como funcionava a política de preços" e não iria mais interferir na Petrobras.

Na sequência, o então porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, juntou-se ao ministro na tentativa de aplacar a taquicardia do mercado: "Uma frase que o nosso presidente disse logo no início da reunião: 'Eu não quero e não tenho direito de intervir na Petrobras'".

Guedes deveria ter feito o seu pupilo repetir a frase dez vezes em voz alta.

As aulas do ministro não foram suficientes para sufocar os instintos mais primitivos do presidente, como se viu no episódio do arroz.

Presidente parte para cima dos produtores

Enquanto Guedes tratava de medidas para suspender o imposto de importação sobre o produto, de modo a tentar achatar a curva alarmantemente ascendente dos preços, Bolsonaro mexia os pauzinhos para intimidar os produtores por meio de um "pedido de esclarecimentos" sobre a alta da cesta básica feito pela Secretaria Nacional do Consumidor. A secretaria é subordinada ao Ministério da Justiça, do fidelíssimo e obediente André Mendonça.

O presidente, que começou a crise do arroz pedindo "patriotismo" aos comerciantes, agora já se vê no direito de pedir satisfações aos produtores.

O caso da Petrobras teve um final feliz. O do arroz ainda não se sabe.

Entre os dois episódios, há diferenças importantes.

A principal delas é que, no caso do aumento do diesel, havia um presidente recém empossado que via no seu ministro da economia um Posto Ipiranga.

Hoje, o que se tem é um presidente de olho na reeleição — e que começa a achar que entende de economia.