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Thaís Oyama

O erro de achar que uma vitória de Biden será o triunfo do bem contra o mal

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Colunista do UOL

06/11/2020 13h18

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Ainda que não seja de lavada, como previsto, tudo indica que Joe Biden derrotou Donald Trump. A se confirmar a notícia, os Estados Unidos terão se livrado de um presidente que mente de forma deslavada, dissemina teorias conspiratórias, sonega imposto de renda, desfere ataques pessoais contra adversários, posta mensagens xenofóbicas e racistas e assim estimula metade dos americanos a odiar a outra metade.

Depois de quatro anos sob a égide de um tal personagem, institutos de pesquisa e boa parte da imprensa previram que a eleição de 2020 marcaria o "despertar" de uma nação que —finalmente sacudida em sua consciência pelo assassinato de George Floyd, as mais de 200 mil mortes pela Covid-19 e a escalada de incivilidade produzida por um presidente incivilizado—flutuaria em uma redentora onda azul.

Não foi bem o que aconteceu. Do ponto de vista dos institutos de pesquisa, na melhor das hipóteses as previsões ficarão no limite da larga margem dos autoconcedidos 4,5 pontos percentuais de erro. Na pior das hipóteses, o fundo do poço é o limite.

Outra vez, o eleitor "oculto" ou "envergonhado" de Trump aparece como suspeito pela derrapagem das previsões. Há que se considerar, afinal, que alguém ridicularizado e taxado de racista e fascista cogite esconder seu voto.

A estigmatização do eleitor republicano, como do eleitor de Jair Bolsonaro no Brasil, é resultado de um desastroso trabalho da oposição.

Lá e cá, representantes da esquerda desprezam o fato de que, na outra ponta do espectro ideológico, podem estar não apenas reacionários abjetos, mas, no caso dos americanos, gente que vê em Trump - ou no partido que ele representa —a esperança de progresso material, de um país ordeiro e seguro ou mesmo a ideia, ainda que falaciosa, de um Estado que não vai enfiar o nariz dentro da casa dos outros ou tentar arrancar dinheiro do contribuinte o tempo todo. Ao passar por cima dessas possibilidades, a oposição aumenta exponencialmente as léguas que separam o seu discurso de bolha da vida real do eleitor.

No Brasil, fermenta a mesma lógica binária — a de que o mundo se divide entre arautos da verdade e trogloditas fascistas.

Bolsonaro não é Trump, mas em nenhum lugar disputa eleitoral é campeonato de superioridade moral. Esquecer disso é a melhor forma de os partidos de oposição quebrarem a cara em 2022 no Brasil.