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Thaís Oyama

Governo compra lote de vacina que vai servir apenas para tirar foto

Colunista do UOL

04/01/2021 11h22

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A Fiocruz, fundação pública vinculada ao Ministério da Saúde, pediu no último dia 31 de dezembro que a Anvisa liberasse, "em caráter excepcional", 2 milhões de doses da vacina de Oxford contra a covid-19 e, em um prazo recorde de 48 horas, a agência autorizou a solicitação.

Ao menos parte desse lote deve chegar ao Brasil em breve, coincidindo com o pedido de registro da vacina de Oxford na Anvisa, igualmente previsto para dar entrada na agência "nos próximos dias".

Assim, tudo concatenado e dando certo, é possível que antes da última semana de janeiro o governo federal já tenha, em condições de serem aplicadas, algumas doses da única vacina que comprou com antecedência.

O governo estaria de parabéns não fosse o fato de que 2 milhões de doses da vacina de Oxford ou qualquer outra só servem para produzir fotos de brasileiros sendo vacinados.

O ministério da Saúde definiu que o plano de imunização contra o coronavírus seria dividido em quatro fases, sendo que a primeira incluiria trabalhadores da área de saúde (cuidadores de idosos, médicos e enfermeiros, além de profissionais de apoio, como cozinheiros, encarregados da limpeza em hospitais, motoristas de ambulância etc.), indígenas, idosos moradores de asilos e pessoas com 75 anos ou mais.

Apenas esse último segmento (a de maiores de 74 anos), da primeira fase das quatro previstas, engloba mais de 7 milhões de brasileiros.

Corrida contra São Paulo

Levando-se em conta que cada brasileiro precisa de duas doses para ser imunizado, os 2 milhões de doses importadas pela Fiocruz mal e mal darão conta do público indígena, e isso se chegarem todas de uma vez.

A importação das doses prontas é uma guinada na estratégia da Fiocruz. Inicialmente, a fundação pretendia trazer o insumo farmacêutico da vacina ao Brasil em janeiro e terminar a fabricação no país, de modo que as primeiras unidades só chegariam ao público em fevereiro.

Agora, a compra em caráter "excepcional" visa a evitar que o governo federal seja passado para trás e comece a vacinar depois do governo de São Paulo.

A Coronavac, ou "a vacina do Doria", como inicialmente quiseram popularizá-la os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, deve ter o registro junto à Anvisa solicitado no dia 15 de janeiro. Cinco dias depois, no dia 20, o governador de São Paulo anunciou que dará início à vacinação no estado — ainda que isso tenha de ocorrer à base de liminar obtida na Justiça.

Alinhados com a Pfizer e Rússia com antecedência, Chile e Argentina já começaram a vacinar

Desde que Doria passou a alardear a data da sua campanha de imunização, o nervosismo tomou conta do governo federal.

A situação piorou com a aprovação pelo FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) da vacina da Pfizer, que, ao contrário do Brasil, diversos países vizinhos haviam comprado com antecedência. Quando ficou claro que México, Chile, Costa Rica e Argentina (esta usando o imunizante russo,Sputinik V) poderiam começar a vacinar suas populações ainda em dezembro do ano passado, como ocorreu, o governo decidiu pedir à Pfizer nem que fosse uma partida "simbólica" de vacinas.

A chegada de ínfimas 500 mil doses oferecidas pela farmacêutica chegou a ser orgulhosamente anunciada pelo ministro da Saúde para janeiro. Mais tarde, porém, o general Eduardo Pazuello, que em breve deve ser substituído no posto, passou a criticar a farmacêutica pelas condições impostas para a compra, que até hoje não foi fechada.

As 500 mil doses da Pfizer tinham o mesmo objetivo que têm os 2 milhões de doses da Oxford adquiridas agora, e às pressas, pelo governo.

Servem para brasileiro ver.