Centrão vai levar Bolsonaro no garrote, mas sem asfixiá-lo
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Ao custo de 500 milhões de reais em emendas e 3 bilhões de reais em verbas extras, o governo elegeu seu candidato à presidência da Câmara.
Agora, terá de decidir o que quer dele.
Para além da categoria dos acordos inconfessáveis, não se tem notícia da existência de uma pauta mínima que tenha sido negociada entre o Ministério da Economia, por exemplo, e Arthur Lira (PP), o homem que escolherá o que será votado na Casa nos próximos dois anos.
A extensão do auxílio emergencial, algo a que o ministro Paulo Guedes resiste, é um exemplo de assunto mal tratado.
Em seu primeiro discurso depois da vitória, Lira sinalizou que pretende defender a medida ao enfatizar o tema da pandemia e a necessidade de olhar o "povo abandonado no momento de maior vulnerabilidade" (nesse trecho da fala, o líder do Centrão homenageou os mortos da covid-19 com um apressado minuto de silêncio que durou menos de dez segundos).
A PEC emergencial é outro item não discutido entre o governo e seu apadrinhado na Câmara. O que o Ministério da Economia quer dela, ou vai apresentar para viabilizá-la, resta um mistério. A hipótese da desindexação do salário-mínimo, por exemplo, atinge em cheio o eleitorado do interior do Nordeste que apoia Lira. O novo presidente da Câmara apoiaria essa medida?
Sem um plano de voo, nem um pacote mínimo de propostas previamente acordado, a partir de agora o governo terá de negociar no varejo com o Centrão.
Isso significa que, a cada medida que quiser emplacar, ou a cada "não" que se atrever a dar ao bloco, o presidente Jair Bolsonaro terá o garrote no pescoço um pouco mais apertado.
Não tão apertado a ponto de asfixiá-lo. O Centrão sabe manusear garrotes e não vai sacrificar quem o sustenta (a não ser, é claro, que sinta cheiro de sangue — vindo de ruas em chamas, economia em cacos e índices de popularidade em queda livre).
Até porque sabe que, ao matar seu provedor, abre caminho para um vice-presidente que, com dois anos de máquina pública na mão e uma boa perspectiva de unificar a direita, faria a festa em 2022.
Por tudo isso, o mais provável é que o bloco que agora assume o comando na Câmara siga espremendo do governo o que pode até a campanha presidencial.
Se Bolsonaro estiver bem até lá, vai com ele.
Se estiver mal, vai com outro.
O governo pode não saber o que quer do Centrão, mas o Centrão sabe bem o que quer do governo.
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