Topo

Thaís Oyama

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Aécio Neves, o do caso do aeroporto de Cláudio, avisa que não está morto

Aécio Neves: comendo pelas beiradas, deputado briga pela sobrevivência política - Pedro Ladeira - 10.jul.2019/Folhapress
Aécio Neves: comendo pelas beiradas, deputado briga pela sobrevivência política Imagem: Pedro Ladeira - 10.jul.2019/Folhapress

Colunista do UOL

24/02/2021 11h33

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em 2010, quando Aécio Neves estava no fim do seu segundo mandato como governador de Minas, mandou construir um aeródromo em terras de sua família, anexas a uma fazenda também pertencente ao clã.

O aeroporto, na cidade de Cláudio, a cerca de 150 km de Belo Horizonte, custou aos contribuintes mineiros quase 14 milhões de reais, mais o custo da "desapropriação" do pedaço de terra que sua família "vendeu" ao estado para abrigar a construção (esse custo foi inicialmente avaliado em 1 milhão de reais).

Agora, por decisão de um juiz da Comarca de Cláudio, os contribuintes mineiros terão de pagar aos Neves 2 milhões de reais, e não apenas 1 milhão, a título de "indenização" pelo uso de uma área pertencente à família para construção de um aeroporto que por anos beneficiou sobretudo a própria família —o controle do aeródromo e as chaves do portão ficavam nas mãos de parentes de Aécio; quem quisesse pousar ali tinha de pedir autorização aos primos do ex-governador.

O valor da "indenização" que o estado de Minas deverá pagar à família Neves foi noticiado pela Folha, o mesmo jornal que, em 2014, revelou a "compra" —pelo estado— de um terreno da família Neves para a construção de um aeroporto que serviu à família Neves. Naquele ano, em que Aécio era candidato à Presidência da República, o Ministério Público de Minas Gerais chegou a abrir um inquérito para investigar o caso, mas terminou por arquivá-lo com a justificativa de que não foi detectada irregularidade na escolha do terreno.

Cabe recurso da decisão do juiz José Alexandre Marson Guidi sobre a indenização e espera-se que a Advocacia-Geral do Estado faça uso desse direito.

Aécio andava sumido.

Depois que foi gravado pedindo 2 milhões de reais a Joesley Batista, episódio que o transformou em réu no Supremo Tribunal Federal, o tucano achou por bem colocar a viola no saco, como se diz em Minas.

Tanto assim que em 2018, ano seguinte à revelação da sua conversa com o dono da JBS, viu-se obrigado a recorrer a um downgrade. O ex-presidenciável, ex-governador e ex-senador concorreu a uma vaga na Câmara Federal e foi eleito com pouco mais de 105 mil votos. Passou 2019 batendo ponto no plenário. Chegava, votava e sumia. Durante todo o ano, fez três pronunciamentos apenas. Colegas supunham que, da Câmara, ele rumaria para a aposentadoria.

Não parece ser a intenção do tucano.

Nos últimos meses, Aécio Neves tem trabalhado intensamente em seu estado para ampliar seu apoio no interior, o que inclui até reuniões com vereadores de municípios de 3 mil habitantes.

Na Câmara, a movimentação tem sido ainda mais frenética - ele agora trabalha para ficar com a importante Comissão de Relações Exteriores (um projeto que pode ser frustrado se o seu aliado e líder do PSDB na Câmara, Rodrigo Castro, abrir mão da comissão na negociação com as demais lideranças, como sinalizou que fará).

A súbita reenergização de Aécio tem origem num paradoxo: o seu recente embate com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Doria, ao pedir a expulsão de Aécio do partido, acabou por aproximá-lo de tucanos contrários às suas pretensões de ser o candidato do partido à Presidência da República em 2022.

Como boa raposa velha, Aécio Neves está tirando o máximo proveito disso.