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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro não quer apenas ser mal-educado com a imprensa, quer controlá-la

Colunista do UOL

25/02/2021 09h47

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"Nunca a imprensa teve um tratamento tão leal e cortês quanto o meu", disse no sábado o presidente Jair Bolsonaro.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk, como se diz nas redes sociais.

O presidente bem sabe que mandar jornalistas "para a pqp" ou recomendar a eles que "enfiem no rabo" latas de leite condensado não é exatamente cortês. Mas até aqui Bolsonaro afronta apenas o bom gosto e a boa educação.

Outra coisa é quando o presidente se acha no direito de responder apenas perguntas "a favor", como faz semanalmente em programas de sua escolha, e interromper entrevistas quando elas atingem seu calo, como fez ontem, no Acre.

Ao ouvir o começo de uma pergunta sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça de anular a quebra de sigilo bancário de seu filho Flávio Bolsonaro, o presidente interrompeu o repórter, decretou que a entrevista estava "encerrada" e retirou-se do recinto.

Não custa lembrar o óbvio: Bolsonaro ocupa um cargo público e seu filho Flávio, senador da República, está sendo processado por acusação de desviar dinheiro igualmente público.

Ao suspender coletivas — e também sugerir a um repórter que enderece certas questões à própria mãe ou dizer que tem vontade de dar uma porrada no entrevistador , como disse quando perguntado sobre a rachadinha de Flávio e os cheques depositados pelo amigo Fabrício Queiroz na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro—, o que o presidente faz é tentar coagir a imprensa para não ter de responder ao que não pode ser respondido.

Uma coisa é a má educação de Bolsonaro - e essa, está provado, não tem conserto.

Outra coisa é a tentativa do presidente de controlar toda instituição que o incomoda, como faz com a imprensa e como já fez com o Coaf, a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal (este por meio de seus aloprados jogadores de pedra, virtuais e verdadeiras).

A primeira prática presidencial envergonha o país. A segunda o ameaça.