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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

STF consolida favoritismo de Lula sobre Bolsonaro para ida ao segundo turno

Lula: Bolsonaro tem de mostrar resultados, ele, não -  Edilson Dantas / Agência O Globo
Lula: Bolsonaro tem de mostrar resultados, ele, não Imagem: Edilson Dantas / Agência O Globo

Colunista do UOL

24/03/2021 10h20

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A decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal de declarar a parcialidade de Sergio Moro no julgamento do ex-presidente Lula enterrou a Lava Jato, soterrou a figura do ex-juiz e encheu de esperanças corruptos e corruptores confessos, cujos advogados agora poderão sustentar até seus tataranetos com o rendimento da enxurrada de apelações com que inundarão as cortes.

No julgamento de ontem, Kassio Nunes Marques, o ministro novato indicado por Jair Bolsonaro, votou como votaria o seu padrinho. Ao elencar argumentos técnicos para não endossar a tese da parcialidade de Moro, Nunes Marques estava agindo não em benefício do ex-juiz, mas contra Lula - e a favor de Bolsonaro.

O ex-capitão sabe que o petista hoje o ultrapassa em favoritismo para a primeira vaga no segundo turno das eleições presidenciais, como mostrou neste mês pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria).

E não é apenas numericamente que o petista está em vantagem em relação ao presidente.

A base eleitoral de Lula é mais sólida que a de Bolsonaro. Especialistas em pesquisa de opinião lembram que essa base, além de se assentar na "pessoa física" do petista, mantém o patamar mínimo há quase duas décadas. Se a eleição fosse hoje, e Lula não mexesse um fio de sua barba, colheria facilmente 20% dos votos.
Já Bolsonaro terá de se movimentar muito para não deixar sua popularidade despencar.

Hoje, ela dependente fundamentalmente do sucesso da campanha de vacinação - sem o qual a recuperação da economia não virá —e do pagamento do auxílio emergencial, âncora da sua aprovação nas classes mais pobres.

O discurso subitamente presidencial do ex-capitão feito ontem à noite mostrou que ele se convenceu da importância estratégica da vacinação para as suas ambições eleitorais.

Essa mesma lógica deverá fazer com que os projetados quatro meses de pagamento do auxílio se estendam para bem além - mais precisamente até o ano da eleição. No universo de um eleitorado que tem necessidades de curto prazo, na hora do voto ninguém se lembra do auxílio que recebeu no ano passado - só do que irá pagar o almoço do dia.

Bolsonaro, portanto, depende da popularidade do seu governo para ir ao segundo turno.
Já Lula, para chegar ao mesmo lugar, depende apenas da sua imagem - agora, senão moralmente, ao menos juridicamente reabilitada pelo STF.