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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Rejeição do eleitorado religioso une Lula, Leite e Mandetta 

Leite diz se sentir apoiado por FHC e descarta candidatura a vice - Reprodução/Facebook
Leite diz se sentir apoiado por FHC e descarta candidatura a vice Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

15/10/2021 09h41

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O ex-presidente Lula (PT), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), têm algo em comum: como potenciais candidatos à Presidência da República, todos enfrentam resistências do eleitorado religioso.

Na gramática das pesquisas de opinião, o "eleitorado religioso" é definido por brasileiros que declaram frequentar cultos religiosos ao menos uma vez por semana. O segmento é formado majoritariamente por cristãos evangélicos, mas inclui fiéis como os chamados católicos praticantes.

Em relação ao ex-presidente Lula, a resistência desse público, ou de grande parte dele, não é nenhuma novidade. Desde a eleição de Jair Bolsonaro, sobretudo entre os evangélicos das vertentes pentecostal e neopentecostal, sedimentou-se a ideia de que o petista defende tudo o que eles condenam: a descriminalização do aborto, das drogas e os direitos do público LGBTQIA+, entre outras pautas.

Já quanto a Eduardo Leite e Mandetta, pesquisas qualitativas conduzidas pelo instituto Ideia mostram que o desagrado do eleitorado religioso aos seus nomes tem origem pontual.

A declarada homossexualidade do governador do Rio Grande do Sul está na base da resistência dos entrevistados.

Em 2018, o instituto Datafolha traçou o perfil dos brasileiros mais refratários aos direitos dos homossexuais: eles são de baixa renda, têm pouca escolaridade, moram na região Norte do país e seguem a religião evangélica.

No caso de Mandetta, a rejeição do público religioso está assentada sobre um equívoco: para parte desse segmento, ele é o "homem que mandou fechar as igrejas".

Quando ministro da Saúde, Mandetta de fato defendeu a suspensão dos cultos e grupos de oração como forma de evitar a propagação do coronavírus, mas, posteriormente, pressionado pelo presidente Bolsonaro, mudou seu discurso e passou a apoiar a abertura dos templos, apesar da pandemia.

Os eleitores religiosos representam nada menos que 35% do eleitorado do país — uma força geológica capaz de mudar o eixo de qualquer disputa. "Não dá para ganhar uma eleição majoritária hoje no Brasil sem falar com esse público", afirma Maurício Moura, CEO do instituto Ideia.

Como qualquer chapa envolvendo Lula, Leite ou Mandetta terá de se preocupar em minimizar a rejeição desse público, é provável que, na bolsa eleitoral, um vice (terrível ou levemente) evangélico passe em breve a valer ouro.