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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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"Gordo passa a vida inteira se escondendo"

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

10/05/2022 04h00

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Esta é parte da versão online da edição de segunda-feira (9) da newsletter de Thaís Oyama.

O economista M.L., que pesa 160 kg e foi apresentado na newsletter anterior, descreve agora o que sente quando está de dieta, conta que foi parar no hospital depois de um almoço pantagruélico e explica por que "para muitos gordos, dinheiro não serve praticamente para nada" — no seu caso, para realizar três coisas que gostaria: passear de Ferrari, fazer sexo com belas mulheres e ir à praia. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

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"O médico perguntou o que tinha acontecido. Falei que tinha bebido demais. Mentira, era comida"

"O gordo se recompensa com a comida. Depois do que aconteceu na academia [seu peso fez com que a barra de supino se soltasse e M.L. fosse ao chão], por exemplo, eu corri pra casa e em seguida fui a uma sorveteria. Estava péssimo e o sorvete me trouxe um bem-estar.

(...) Comi uma costela ao bafo inteira, tinha mais ou menos uns 800 gramas, sem osso. Aí, parti para o risoto piemontês, com muito queijo. Um prato desse tamanho.

"Amor, o arroz branco com feijão tropeiro está pronto", ela falou. Fui lá e pá: arroz com feijão tropeiro e cupim na grelha, adoro cupim. Tudo isso seguido: saía de um prato e entrava no outro, bebendo Jack Daniels e cerveja. Quando terminei o cupim, já estava empanturrado.

Mas chegaram as sobremesas: mousse de maracujá e torta de morango com trufas. Peguei a travessa de mousse e falei para a minha esposa:

- Já tirou o seu?

Ela:

-Tirou o quê?

Eu:

-Tirou o pedaço que você quer comer? Porque eu vou comer o prato todo, amanhã estou de dieta.

Ela tirou um pedaço pequeno e eu, sem brincadeira, tatatatata, comi todo o resto. Já estava passando mal, minha vista querendo ficar escurecida. Mas fui pra torta trufada. Botei uma porção maior que esse prato e mandei ver.

Aí minha vista escureceu, fiquei com ânsia de vômito e resultado: fui parar no hospital. O médico perguntou o que tinha acontecido e eu falei que tinha bebido demais, mas era mentira. Era a comida.

"Dinheiro, pro obeso, pode servir pra praticamente nada"

Quero emagrecer para que o meu filho não sofra por tabela: 'seu pai é gordo, hein, Júnior?' Isso seria muito ruim. E não adianta você levar o menino na escola de carrão que nada resolve esse constrangimento.

Muito melhor chegar a pé e magro do que de Range Rover esporte, igual a que eu tenho, e ser gordo.

(...) Dinheiro, para o obeso, muitas vezes não vale grande coisa. Um amigo meu tem uma Ferrari. Às vezes, vou com ele no futevôlei. Eu não jogo, mas fico lá no meio, já me diverte.

"M., vamos de Ferrari", ele falou. E eu não consegui entrar nela. É muito apertado pra mim, fico mais espremido do que num avião. Então, não posso comprar uma Ferrari nunca, ou então vou ter de mandar adaptar, o que é um absurdo. Mulher é a mesma coisa.

Dou minhas escapulidas de vez em quando e tem mulheres lindas que basta você ter dinheiro pra ter, mas eu não vou. Mesmo se eu estiver pagando, não é assim, "dane-se, estou pagando". Tenho vergonha de me mostrar. Sei que ela não vai tocar no assunto, mas eu vou ter vergonha do mesmo jeito.

E vou dizer mais uma coisa: quando você supera a vergonha e se arrisca a ir, muitas vezes você broxa. Porque está tão tenso, tão nervoso, que broxa.

Então, o dinheiro pro obeso pode não servir pra praticamente nada.

"Vamos pra praia, pra Porto de Galinhas?".

"Ah, não gosto de praia". Mentira. Eu penso: vou lá, as mulheres de biquíni, os caras todos sarados e eu chego assim?

E pior, vai ter a hora da foto, o que significa que eu vou aparecer no Instagram dos outros.

Gordo passa a vida inteira se escondendo.

Se eu amanhecesse magro amanhã, a primeira coisa que eu faria seria correr no parque que tem em frente de casa e ir pra praia.

Iria colocar uma sunga, curtir o sol, curtir um banho de mar. Fazer coisas de magro, como, por exemplo, andar de kart e jogar futevôlei. Quando minha mulher perguntar à noite: "Onde nós vamos jantar?" Eu vou responder: "Onde você quiser". Sem me preocupar com o tipo de cadeira que tem no lugar (...)

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