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Vicente Toledo

Kraken, Frankenstein e anular voto: saga de Trump contra urna vira comédia

Advogado de Donald Trump, Rudy Giuliani teve parte da sua tinta de cabelo escorrendo pelo rosto junto com suor durante coletiva de imprensa do Partido Republicano - Jacquelyn Martin/AP
Advogado de Donald Trump, Rudy Giuliani teve parte da sua tinta de cabelo escorrendo pelo rosto junto com suor durante coletiva de imprensa do Partido Republicano Imagem: Jacquelyn Martin/AP

Colunista do UOL

24/11/2020 12h16

A batalha jurídica de Donald Trump para tentar mudar o resultado da eleição presidencial vencida por Joe Biden está falhando. O presidente e seus aliados já perderam ou abandonaram mais de 30 processos na Justiça contestando os resultados da votação encerrada no último dia 3.

Três semanas depois da eleição, com Biden totalizando quase 80 milhões de votos — seis milhões a mais que Trump —, a campanha do presidente ainda não apresentou nenhuma evidência para corroborar suas denúncias de fraude eleitoral.

Autoridades estaduais e federais também negaram a existência de irregularidades no processo, declarando em relatório que esta foi a eleição mais segura da história dos Estados Unidos. A falta de provas, porém, não foi o único problema de Trump nos tribunais.

Sua equipe de advogados, liderada pelo caricato ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, demonstrou níveis cômicos de incompetência, transformando o delicado momento político que o país atravessa em uma novela de baixo orçamento.

Em Wisconsin, o advogado que lidera a equipe do presidente na recontagem dos votos no estado entrou com um recurso na Justiça local pedindo a anulação de milhares de votos, entre eles o seu e o de sua mulher. Joe Biden, do Partido Democrata, venceu a eleição presidencial no estado por cerca de 20 mil votos.

Jim Troupis votou antecipadamente e pessoalmente, uma das opções oferecidas aos eleitores do estado em meio à pandemia. Segundo seu próprio argumento apresentado no tribunal, porém, eles teriam votado ilegalmente.

O caso veio à tona quando seus nomes apareceram em listas de eleitores submetidas aos oficiais eleitorais do Condado de Dane. Os documentos identificam eleitores que votaram de maneiras consideradas ilegais pela campanha de Trump e podem ser usados como evidência no futuro.

Juiz conservador chamou argumentação de Trump de "Frankenstein"

Quando cinco advogados se afastaram do caso às vésperas da audiência, Rudy Giuliani tomou a frente do processo movido pela campanha de Trump na Justiça federal da Pensilvânia, um dos mais importantes na tentativa de mudar o resultado da eleição.

Giuliani, que não argumentava um caso diante de um juiz federal havia 28 anos, pediu a anulação dos resultados no estado alegando que eleitores republicanos tiveram seus direitos violados porque oficiais eleitorais de condados majoritariamente democratas permitiram que eleitores corrigissem erros em votos enviados pelo correio.

As testemunhas de acusação no processo, porém, não foram convincentes. Uma delas já havia sido multada por violar leis eleitorais, enquanto os demais não conseguiram ir muito além das teorias da conspiração que circulam nas redes sociais.

O juiz federal Matthew Brann não comprou a história e, uma decisão de 37 páginas, comparou o caso apresentado pela campanha de Trump ao monstro "Frankenstein", costurado com partes avulsas de diferentes origens. Baseado em "argumentos legais sem mérito e especulações", o recurso legal de Giuliani não repararia nenhum suposto prejuízo e iria "simplesmente negar a mais de 6,8 milhões de pessoas o direito ao voto", disse Brann.

Giuliani reclamou que não teve uma chance justa para apresentar evidências em uma audiência e prometeu recorrer à Suprema Corte. De passagem, atacou a integridade do juiz por ter sido indicado ao cargo por Obama, apesar de Brann ser republicano registrado e ex-membro da ultraconservadora Sociedade Federalista.

Equipe de Trump afasta advogada que prometeu "soltar o Kraken" no tribunal

Não satisfeito com a derrota no tribunal federal, Giuliani convocou uma entrevista coletiva par ao dia seguinte. Durante 90 minutos, ele e a advogada Sidney Powell desfilaram uma nova série de acusações infundadas e teorias conspiratórias cada vez mais elaboradas.

Powell, que antes havia prometido "soltar o Kraken" no tribunal para defender o presidente Trump, chegou a ligar as urnas eletrônicas usadas na eleição americana ao falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.

Sobrou até para o governador da Geórgia, o republicano Brian Kemp, acusado por Powell de receber propina da empresa Dominion, fabricante do software usado nas eleições do estado, para alterar os resultados em favor de Joe Biden. "Louca demais até para o presidente", segundo um assessor, Powell foi desligada da equipe jurídica de Trump no domingo.