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Foto de Exército revistando crianças em intervenção no Rio é verdadeira?

Foto de Márcia Folleto em que militar revista crianças e voltou a circular nas redes sociais - Arte/UOL
Foto de Márcia Folleto em que militar revista crianças e voltou a circular nas redes sociais Imagem: Arte/UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/02/2018 04h00

A foto de um soldado revistando uma criança a caminho da escola tem gerado críticas à intervenção federal no Rio de Janeiro, aprovada na última terça-feira (20) pelo Senado.

A imagem, compartilhada quase 50 mil vezes, vem acompanhada de comentários como "é surreal", "a pior imagem que você vai ver hoje" e "Exército brasileiro humilhando crianças".

FALSO: Foto é de 1994

Embora verdadeira, a fotografia não retrata a intervenção pela qual o Rio de Janeiro passa, mas uma parceria entre os governos federal e estadual ocorrida em 1994.

Naquele ano aconteceu a primeira Operação Rio, quando mais de 2.000 militares deram auxílio ao final do governo de Nilo Batista (PDT), substituto de Leonel Brizola (PDT), que havia renunciado em abril de 1994.

Assinada por Batista e pelo então presidente Itamar Franco (PMDB), a medida durou dois meses e foi marcada por ocupação de comunidades carentes e maior controle de rodovias e aeroportos.

Clicada pela fotógrafa Márcia Folleto, a imagem foi publicada na capa do jornal "O Globo" em 23 de novembro de 1994. As crianças foram revistadas no acesso ao morro Dona Marta, em Botafogo.

"Era entre o meio para o final da tarde e as crianças voltavam da escola", conta Folleto, em entrevista ao UOL. "Como a comunidade estava cercada, todos os que entravam e saiam eram revistados, inclusive as crianças. Os militares falavam que, segundo denúncias, elas podiam ter drogas escondidas na mochila."

A fotógrafa diz que as crianças não eram obrigadas a ficar em posição de revista como os adultos enquanto suas mochilas eram vistoriadas. "Mas esse grupo especificamente decidiu imitar os adultos e colocou as mãos na parede."

A foto ajudou a fomentar uma série de críticas que a operação vinha sofrendo quanto a quebra de direitos fundamentais dos cidadãos.

No mesmo dia, a "Folha de S.Paulo" já havia publicado uma reportagem em que revelava que o general Roberto Jugurtha Câmara Senna, responsável pela intervenção, considerava "inevitável" o desrespeito de normas constitucionais durante a operação

"Infelizmente alguns direitos constitucionais serão prejudicados. Eu reconheço que está havendo um cerceamento das liberdades. Nós não somos um batalhão de assistentes sociais. É impossível evitar um ou outro excesso. É preciso às vezes ser duro, ríspido, na ponta da linha", disse Senna a um grupo de vereadores da capital fluminense na época.

Exército não pode quebrar direitos fundamentais

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que uma intervenção federal não permite a quebra de nenhum direito fundamental dos cidadãos

Assim como a Polícia Militar, o Exército não está autorizado a revistar menores de idade sem permissão prévia da Justiça.

"Hoje, acredito que as pessoas sintam mais este tipo de intervenção porque viram que não dá em nada", diz a fotógrafa. "Naquela época, todos ficavam mais calados nessas situações. Tinham medo. Afinal, eram as Forças Armadas."

No dia seguinte à publicação da foto no "Globo", no entanto, o Exército declarou que iria investigar eventuais abusos por parte de seus militares.

Segundo Folleto, esta também não é a primeira vez que a foto volta a rodar as redes sociais. "Volta e meia ela ressurge. Isso diz muito sobre a situação do nosso país."

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