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Flávio Bolsonaro republica vídeos de 'vacinas de vento' e pede fiscalização

Flávio Bolsonaro republica vídeos de "vacinas de vento" aplicadas em idosos - Reprodução/Facebook
Flávio Bolsonaro republica vídeos de 'vacinas de vento' aplicadas em idosos Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2021 17h42

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pediu na tarde de ontem, pelo Facebook, a fiscalização da aplicação de vacinas contra a covid-19. No post, o senador publicou uma montagem em vídeo de quatro situações em que o conteúdo da seringa não foi devidamente injetado no braço de idosos.

O UOL apurou os casos em questão e constatou que, de fato, se trata de denúncias realizadas por familiares das vítimas contra profissionais de saúde. Em todos eles, é possível ver pelas imagens que o líquido não é aplicado. A prática é conhecida como "vacina de vento".

O primeiro deles é do começo de fevereiro e aconteceu em Manaus. Procurada pelo UOL, a Semsa (Secretaria Municipal de Saúde) afirmou que o profissional que realizava a vacinação no vídeo foi advertido verbalmente e orientado sobre a forma correta de imunizar a população.

Segundo a pasta, o servidor alegou que houve um defeito na seringa e que isso causou vazamento da dose.

"De acordo com a Divisão de Imunização do município, por falha de fabricação, as seringas podem, eventualmente, ocasionar a perda de líquido, tanto pela borracha do êmbolo quanto pelo canhão de encaixe da agulha", disse a secretaria em nota.

O segundo caso ocorreu em Belém na semana passada. A Secretaria Municipal de Saúde disse se tratar de um caso isolado e que o idoso foi vacinado corretamente depois.

A terceira ocorrência registrada na montagem aconteceu em Jacareí, no interior de São Paulo, no dia 19 de março. Após a denúncia feita pela família, a prefeitura afastou o profissional e afirmou ter encaminhado a questão para investigação policial.

O quarto e último caso ocorreu em Goiânia e foi registrado pelo UOL no dia 10 de fevereiro. À ocasião, a SMS (Secretaria de Saúde de Goiânia) declarou que a funcionária foi identificada e afastada. Procurada pelo UOL novamente nesta segunda-feira (29), a pasta afirmou que a servidora não pertencia ao quadro municipal de saúde e, por isso, o caso foi encaminhado ao Ministério Público de Goiás.

A SMS também afirmou ter adotado novo protocolo de vacinação no qual dois profissionais de saúde participam da ação: um aplica as doses e o outro observa o procedimento. A pasta também orienta que familiares acompanhem as imunizações e filmem sempre que possível.

Outras denúncias

Outras denúncias foram feitas pelas redes sociais ou diretamente às autoridades desde que a campanha de vacinação começou no Brasil, em janeiro deste ano. No dia 17, o Senado aprovou um projeto que autoriza as pessoas a filmarem e fotografarem as aplicações, como forma de combater as fraudes.

Foram ainda registrados roubos à mão armada e vacinações clandestinas pelo país.

Enquanto isso, a vacinação da população caminha a passos lentos. Até agora, segundo o consórcio de veículos de imprensa, apenas 7,31% dos brasileiros receberam a primeira dose. A maioria dos laboratórios recomenda a aplicação de duas doses para garantir a imunidade.

O pedido de Flávio Bolsonaro vem na esteira de uma mudança de discurso do governo federal em relação à vacinação, após ter negligenciado a urgência pela compra dos imunizantes durante a pandemia.

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados têm feito postagens pró-vacinação. Também hoje a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) compartilhou um vídeo de "vacina de vento" exigindo punição para casos em que profissionais de saúde simulam a imunização. O vídeo é de Manaus e consta na montagem exibida por Flávio Bolsonaro nas redes sociais.

A prática pode configurar peculato, em que há desvios de bens, e crime sanitário.

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