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Remédio israelense ainda não pode ser considerado eficaz contra covid-19

2.jun.2021 - Post da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) no Facebook exalta remédio israelense contra covid-19 cuja eficácia foi provada apenas em testes preliminares - Reprodução/Facebook Carla Zambelli
2.jun.2021 - Post da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) no Facebook exalta remédio israelense contra covid-19 cuja eficácia foi provada apenas em testes preliminares Imagem: Reprodução/Facebook Carla Zambelli

Beatriz Montesanti

Colaboração para o UOL, em São Paulo*

02/06/2021 18h35

Ainda não é possível considerar que o remédio israelense MesenCure seja eficaz para o tratamento da covid-19, como sugerem posts publicados nas redes sociais desde a noite de segunda-feira (31).

Como até mesmo alguns desses posts admitem, os resultados divulgados são ainda preliminares. O estudo foi realizado com apenas dez pessoas, taxa considerada pequena para entender o desempenho de um remédio no combate a uma doença, e não passou por revisão por pares —condição básica para que estudos científicos sejam considerados confiáveis.

"O estudo é super inicial, não tem nada publicado, nada palpável. Não sabemos nem o nome do composto ou agente ativo, e coloca resultados fantásticos. Não dá para tirar nada com estudo feito com pouquíssimos pacientes como foi relatado. É mais um factóide do que um estudo científico. Gostaríamos que fosse verdade, mas precisamos esperar os dados serem publicados para serem avaliados", diz Alexandre Naime Barbosa, chefe do departamento de infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e consultor para covid-19 da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Associação Médica Brasileira.

Segundo Naime, para definir se um medicamento é eficaz contra uma doença, é necessário fazer um ensaio clínico randomizado, também conhecido como "ensaio de fase três". Nesses casos, há um número grande de pessoas com a doença. Algumas são tratadas com a medicação em teste e, outras, com um placebo.

"Nem o paciente, nem os cientistas sabem quem está tomando o quê. Quando acaba a pesquisa, você abre o estudo para saber se o grupo de pessoas que recebeu a intervenção teve desfecho diferente do que recebeu o placebo", explicou.

Políticos como os deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ) e Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), entre outros, fizeram posts no Facebook com os resultados divulgados pela empresa israelense que tiveram milhares de curtidas e compartilhamentos.

Uma busca feita pelo termo "remédio israelense" na plataforma Crowdtangle na noite de hoje (2) encontrou 536 posts públicos com a expressão publicados nos últimos três dias, os quais somaram mais de 166 mil interações (curtidas, compartilhamentos e comentários). Os posts do trio de parlamentares representaram cerca de 70% destas interações.

Os resultados preliminares sobre o remédio foram apresentados pela empresa Bonus BioGroup em uma conferência nos EUA e em um comunicado de cinco páginas enviado à bolsa de valores de Tel Aviv. A Bonus BioGroup divulgou uma taxa de 100% de sucesso nos testes, que foram realizados com apenas dez pacientes em uma etapa inicial do experimento.

Os resultados obtidos apontaram para uma redução de 40% na inflamação de pulmão dos pacientes, que tinham entre 45 e 75 anos e sintomas graves. Segundo a empresa, 90% deles também tinham comorbidade. Os pacientes foram acompanhados pelo período de 30 dias após a administração do tratamento —um deles morreu, segundo a empresa, de uma condição preexistente não relacionada à covid-19.

O MesenCure é feito com células-tronco, extraídas do tecido adiposo de doadores. A conclusão por ora é que elas têm o potencial de reduzir inflamações e aliviar sintomas respiratórios.

O CEO da Bonus BioGroup, Shai Meretzki, disse ao jornal "Jerusalem Post" que a empresa pretende agora publicar os resultados em uma revista acadêmica com revisão por pares. A fase dois dos testes irá acompanhar outros 50 pacientes, possivelmente fora de Israel, devido à baixa taxa de contaminação no país.

*Colaborou Bernardo Barbosa, do UOL em São Paulo

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