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Projeto premiado mostra como SP poderá ficar com a demolição do Minhocão

Guilherme Balza<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

09/05/2010 07h01

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, anunciaram nessa quinta-feira (6) que a prefeitura pretende demolir o elevado Costa e Silva, popular Minhocão, e “enterrar” a ferrovia de superfície que se estende da Lapa ao Brás. Pelo projeto, para atender à demanda de carros que utilizam diariamente o Minhocão será necessário construir uma via expressa no local onde está a ferrovia.

Durante o anúncio, entretanto, a prefeitura divulgou apenas as diretrizes e propostas preliminares do projeto. Mas essa não é a primeira vez que a Prefeitura de São Paulo anuncia mudanças no Minhocão. Análises para a demolição do elevado foram realizadas também nas gestões de Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB). 

  • Montagem mostra a região da praça Marechal Deodoro hoje e após uma possível demolição do Minhocão; o projeto é de Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz

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Em 2006, então no início de seu mandato, José Serra (PSDB) lançou o Prêmio Prestes Maia de Urbanismo, com o objetivo de colher projetos para o Minhocão. Inaugurado em 1971 pelo então prefeito Paulo Maluf, o elevado é frequentemente criticado por urbanistas pela degradação que provocou. O barulho e a fumaça dos carros, entre outros problemas, levou à desvalorização da região da avenida São João e dos bairros Campos Elíseos, Santa Cecília e Vila Buarque.

Dos sete projetos premiados na época, o que mais se assemelha à proposta atual da prefeitura é dos arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, que também propõem a demolição do elevado e a construção de uma via expressa na região da ferrovia.

Todos os outros projetos propuseram manter a estrutura do Minhocão e aproveitá-la para criar áreas de lazer e de circulação. Já para Lourenço Gimenes, a revitalização da área passa necessariamente pela remoção da estrutura do elevado. “O Minhocão tem uma escala agressiva. Um parque ali não funcionaria porque as pessoas não se sentiriam ‘convidadas’ a aproveitar o espaço, não teriam a capacidade de visualizar, compreender e se sentir seguras para usar o local”, diz o arquiteto em entrevista ao UOL Notícias.

Gimenes acredita, no entanto, que é preciso manter alguns trechos do elevado, em pontos estratégicos, porque a obra faz parte da história da cidade, apesar dos malefícios que trouxe. O seu projeto prevê a manutenção de quatro ou cinco pontos suspensos, transformados em equipamentos públicos de lazer. “Não temos que demolir e fingir que não existiu. Partes do Minhocão precisam estar lá para lembrarmos do erro que foi cometido e não repetirmos”, afirma.
 

  • Montagem mostra a região da praça Marechal Deodoro hoje e após uma possível demolição do Minhocão; o projeto é de Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz


A principal diferença da proposta da prefeitura com a apresentada pelos arquitetos é a necessidade de “enterrar” a linha férrea. Enquanto a ideia da prefeitura é tornar subterrâneos cerca de 12 km da ferrovia para a construção da via expressa no local, o projeto assinado por Gimenes propõe a instalação da avenida ao lado da ferrovia, que, segundo ele, teria um custo bem mais reduzido e traria menos impacto na região.

O arquiteto defende ainda que a avenida não tenha proporções que causem muito impacto na cidade. “Há muito espaço inutilizado ali. Não podemos criar uma estrutura arrasa quarteirão, uma via expressa como a avenida 23 de Maio, por exemplo, que divida a cidade em dois”, diz.

O arquiteto propõe ainda a publicação de decretos para inclusão social, com o objetivo de garantir que, após a demolição do Minhocão, não ocorra a saída dos atuais moradores por conta de uma possível especulação imobiliária da região.

Para Erundina, moradores devem ser consultados
Na avaliação da deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), em cuja gestão o Minhocão passou a ser bloqueado para carros aos finais de semana, a demolição trará um “benefício grande”, mas a população da região precisará ser consultada para que o erro cometido com a construção do elevado não se repita. “Não pode ser uma decisão unilateral da prefeitura. A demolição é uma coisa cara, complexa, que necessita de uma análise especializada e a opinião da população sobre a mudança”, afirma Erundina.
 
Segundo afirmou o governo de Kassab, serão contratadas empresas para o desenvolvimento dos projetos sempre a partir das orientações propostas pelo poder público, com a participação da sociedade civil. Os termos de referência do projeto ficarão disponíveis durante um mês para consulta pública.

Os passos para a demolicação incluem a proposta do edital, que também será objeto de consulta pública, a licitação e o desenvolvimento dos projetos. A expectativa é de que os projetos estejam concluídos no segundo semestre de 2011. Os mesmos subsidiarão a elaboração das propostas de lei para essas operações urbanas a serem encaminhadas ao Legislativo, ainda de acordo com informações da prefeitura. Não há previsão para o início da possível obra, mas o mercado aposta que, se de fato for concretizada, a demolição ocorrerá somente em 2025.


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