Topo

"Ele falava para os alunos ficarem de costas e, em seguida, eu só ouvia o disparo", diz sobrevivente

Hanrrikson de Andrade<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>No Rio de Janeiro

07/04/2011 18h13

A estudante Jade Araújo, de apenas 12 anos, relatou passo a passo o desespero dos alunos do colégio Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, que nesta quinta-feira (7) foi palco de uma chacina protagonizada por Wellington Menezes de Oliveira, 23. Segundo a menina, corpos de crianças se amontoavam nas escadas da unidade educacional e, ao fim da tragédia, uma onda de sangue desceu pelos degraus. "Parecia uma cachoeira de sangue", relatou.

Jade é aluna da sexta série e estava em uma sala do segundo andar quando começaram os disparos. Imediatamente, ela e os colegas correram para o terceiro andar, enquanto Wellington abria porta por porta para exterminar os locais ocupadas pelas crianças da unidade educacional. Depois de subir as escadas para o topo do prédio, presenciou uma cena que ela classificou como "horrível": crianças e adolescentes implorando para não serem mortas.

"Elas gritavam 'não me mata, por favor, não me mata, eu quero viver'. Mas elas morreram mesmo assim. Ele matou mais meninas do que meninos e foi de sala em sala atirando nos alunos", explicou ela.

Uma vez escondida em uma sala no terceiro andar do colégio, Jade pôde escutar diálogos do assassino com as vítimas. Segundo ela, Wellington mandava as crianças olharem para a parede antes de atirar, preferencialmente na cabeça. O perfil da chacina mostra que o criminoso entrou na escola determinado a matar apenas crianças, já que nenhum professor foi alvejado.

"Ele falava para os alunos ficarem de costas e, em seguida, eu só ouvia o disparo. Teve gente que desmaiou fugindo pelas escadas, outras foram pisoteadas, já que o pânico era grande. Quando ele percebia que uma criança caída não estava morta, fazia questão de voltar para atirar no corpo", contou Jade.

Jade só conseguiu se salvar porque Wellington não teve tempo de subir o lance de escadas para o terceiro andar --no caminho, foi baleado pelo policial militar Marcos Alves, do 14º BPM (Bangu), e atirou em sua própria cabeça na sequência. Ela, os colegas e a professora posicionaram todos os materiais da sala em frente à porta para impedir uma possível entrada do assassino.

A menina foi salva pelo irmão, que entrou no prédio quando o atirador ainda estava vivo, mas conseguiu chegar ao terceiro andar por um caminho alternativo. Ao descer as escadas para deixar a escola, Jade afirmou que seu tênis ficou encharcado de sangue. Mesmo assustada, ela disse que não queria sair do colégio, já que estava preocupada com duas amigas que são deficientes visuais.

"Eu falei para a minha mãe que não queria sair, perguntava a ela se a Marcela e a Carol estavam bem. Mas elas se esconderam debaixo das carteiras e estão bem", finalizou.