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Polícia do Rio pode punir agente que usou "colar de algemas" ao escoltar assassina confessa do amante

Hanrrikson de Andrade

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

19/05/2011 16h41Atualizada em 20/05/2011 12h14

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou nesta quinta-feira (19) que o policial Jorge Luís de Oliveira Valente pode ser punido por ter utilizado um "colar de algemas" enquanto conduzia a estudante Verônica Verone de Paiva, 18, na saída da 77ª Delegacia de Polícia (Icaraí). Segundo o órgão, foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar na corregedoria Interna. A jovem confessou ter assassinado o amante no último fim de semana em um motel de Niterói, na região metropolitana do Rio.

Valente já foi repreendido pela cúpula da Polícia Civil e estará sujeito a uma suspensão de 41 a 90 dias, se punido for. De acordo com a corregedoria da corporação, a atitude do policial não estaria de acordo com o código de ética que orienta o exercício da profissão - que defende valores como "probidade", "discrição" e "moderação".

"O policial manterá observância, tanto mais rigorosa quanto mais elevado for o grau hierárquico, dos seguintes preceitos da ética: (...) exercer a função policial com probidade, discrição e moderação, fazendo observar as leis com lhaneza", defende o texto do código de ética (Art. 10º).

O agente, que é lotado no Núcleo de Controle de Presos da Polinter, uniu várias algemas a fim de fazer um colar em forma de "x" e as utilizou no pescoço como uma espécie de enfeite. O inquérito foi aberto assim que o corregedor da Polícia Civil Gilson Emiliano viu as imagens nos jornais.

Ele declarou à imprensa que Valente transformara um instrumento de trabalho em "adorno", o que prejudicaria a imagem da corporação no contexto social.

Mais 25 dias de cadeia

A Justiça deferiu nesta quinta-feira (19) a extensão por mais 25 dias da prisão temporária de Verônica. No próximo sábado (21), ela participará da reconstituição simulada da morte do amante, o empresário Fábio Gabriel Rodrigues, 33. Ela segue detida em Bangu 7, no complexo penitenciário de Gericinó, na zona oeste Rio.

O advogado da suspeita, Rodolfo Thompson, afirmou nesta semana que não entrará com pedido de habeas corpus, pois não identifica irregularidades nos métodos com os quais a Polícia Civil conduz o caso. Ele alega que Verônica foi vítima de violência sexual quando tinha sete anos, o que supostamente teria influenciado o ato criminoso. Além disso, argumenta que a jovem sofre de síndrome do pânico e usa vários remédios controlados.

Já a delegada do caso, Juliana Rattes, da 77ª DP (Icaraí), não descarta possibilidade alguma. Ela confirmou que o corpo da vítima não apresenta marcas perceptíveis de estrangulamento - o dado sobre o óbito consta em um laudo feito por peritos que estiveram no local e analisaram as fotos da vítima. Segundo a polícia, não há "sinais externos" que confirmem a versão da estudante de 18 anos - ela disse ter enforcado o rapaz com um cinto.

No entanto, a argumentação da jovem só poderá ser realmente contestada a partir da divulgação do exame cadavérico. Os investigadores trabalham com várias hipóteses para elucidar o caso, entre as quais a suposta participação de uma terceira pessoa na cena do crime. Rattes quer urgência na entrega dos resultados dos laudos toxicológico e de causa da morte. Especula-se até que Rodrigues possa ter sido vítima de overdose.

Em depoimento, a adolescente argumentou ter matado o empresário em legítima defesa. Segundo ela, o amante estava sob efeito de drogas e teria tentado estuprá-la no quarto de um motel da estrada Francisco da Cruz Nunes, em Niterói, o que gerou uma reação instintiva. O corpo da vítima foi encontrado por funcionários do motel no último sábado (14). A polícia, porém, desconfiou da versão apresentada pela jovem e ela foi presa dois dias depois do crime.

A mãe de Verônica, Elisabete Verone, que foi à delegacia nesta quarta-feira (18) utilizando uma máscara de uso hospitalar para proteger sua identidade, prestou depoimento de mais de cinco horas e não falou com os jornalistas ao sair. De acordo com as informações passadas para a imprensa, ela acrescentou poucos detalhes ao processo de investigação, mas disse que Rodrigues nunca residiu na casa da família da acusada. Em depoimento, a jovem teria dito que ela e o amante chegaram a morar juntos.

Possível cúmplice

A polícia investiga se uma terceira pessoa participou da cena do crime, já que a adolescente disse ter arrastado o namorado morto até a garagem. Como o empresário pesava cerca de 90 quilos, existe a suspeita de que ela tenha contado com ajuda de alguém para carregar o corpo da vitima. Ainda não há conclusões periciais sobre essa hipótese.

Polícia fará reconstituição de crime
em motel no sábado


Outros namorados de Verônica, que disse ter pelo menos três relacionamentos simultâneos, também devem prestar depoimento em breve.

As imagens do circuito interno do motel mostram a estudante e um homem entrando pela garagem em uma picape branca. No entanto, ainda não é possível identificar se esse homem era o empresário ou um hipotético cúmplice.

Incertezas

Um amigo e a ex-mulher de Rodrigues disseram em depoimento que a vítima chegou a comentar sobre uma suposta gravidez de Verônica. Não há testemunhas do fato, e a jovem negou em depoimento ter feito um aborto, segundo a delegada da 77ª DP, Juliana Rattes.

Já relatos de parentes do empresário dão conta de que Verônica estaria fazendo ameaças ao amante no período anterior à morte. Com ciúme de que ele pudesse se aproximar de outra mulher, ela teria dito que se ele não ficasse com ela, "não ficaria com mais ninguém".

Para fugir do motel após o crime, Verônica usou a picape branca do amante. Os investigadores encontraram no carro o resto de um cigarro de maconha e um pó branco ainda não identificado. Na versão da acusada, apenas Rodrigues usou drogas na noite do último sábado.

Segundo a polícia, a adolescente foi indiciada por homicídio qualificado por motivo fútil e tentativa de ocultação de cadáver. Se condenada, ela pode ser punida com até 30 anos de prisão.