Brasil usou mal os recursos e falhou em prevenção, dizem especialistas
As centenas de mortes e os prejuízos bilionários causados pelas chuvas nos últimos anos mostram que o país falhou na prevenção dos efeitos causados pelas chuvas. Para especialistas consultados pelo UOL, a manutenção de pessoas em áreas de riscos, investimentos mal feitos e falhas no monitoramento meteorológico são apontados como causas para os recorrentes problemas.
Para o coordenador do Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia), Luiz Pinguelli Rosa, a quantidade de mortos mostra que o Brasil não fez o dever de casa quanto à prevenção de tragédias.
“Com a quantidade de mortos que tivemos, não há dúvidas de que o país atuou mal. O resultado se mede pela consequência desses temporais. Nós não conseguimos ainda uma equação bem feita para prevenir. E isso não é só por falta de conhecimento científico. Parte é por falta de especialista, parte é por falta de investimento. E isso seria retirar pessoas de área de risco”, disse.
Segundo Pinguelli, o país apresentou avanços com o programa "Minha Casa, Minha Vida". Ele disse que, em janeiro de 2012, as chuvas causaram menos estragos que em anos anteriores, “apesar da dimensão das chuvas e dos fenômenos ter sido relativamente menor.”
“Evoluímos. Há um programa habitacional hoje, e isso é positivo. Mas os resultados não são suficientes. Temos pessoas morando em áreas de risco em grande quantidade, o que mostra que há um deficit de construções, especialmente de caráter popular”, afirmou. O professor ainda defende a criação de uma rede que possibilite a integração das informações.
“É necessária uma rede nacional que se articule com as redes estaduais e com a participação de órgãos públicos. É preciso centros em algumas cidades. A prevenção meteorológica não basta por si. Ela [meteorologia] pode até informar sobre um evento extremo, mas é preciso saber como isso pode afetar as pessoas que vivem naquela área. É preciso usar conceitos de geotecnia, de conhecimento do solo”, disse Pingelli.
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Já o pesquisador e consultor do Centro Universitário de Pesquisas sobre Desastres da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Pedro Paulo Souza diz que é “discutível” aceitar o argumento de que a falta de recursos nos últimos anos seria o motivo para o grande prejuízo causado e pelas mortes registradas.
“Hoje os recursos são utilizados de forma aleatória, com baixos resultados, sendo mais instrumento de política partidária do que de política pública”, disse, citando que não existem planos bem elaborados para identificar, mapear e monitorar riscos e vulnerabilidades.
Faltam defesas civis
Segundo o consultor, a falta de preparação e articulação das cidades para eventos de grande intensidade é outro problema grave. “Apesar de a Defesa Civil ser pensada e organizada como sistema é sensível a falta de integração nos três níveis. A grande maioria dos municípios não tem coordenadorias municipais de defesa civil. São raríssimos os municípios que têm mapeadas as áreas de risco; desconhecendo os riscos, obviamente não podem se dedicar a obras de prevenção e preparação”, informou Souza.
Para o professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Humberto Barbosa, há problemas de integração de informações entre meteorologia e sistema de atuação em caso de acidentes naturais.
“A eficiência do sistema de defesa civil não só está condicionada à capacidade de resposta rápida, mas também de manter o poder público em sintonia com o serviço de meteorologia por meio de trabalho de prevenção”, afirmou Barbosa.
Segundo o professor, a prevenção e o poder público estiveram ausentes nas enchentes dos rios Canhoto (PE) e Mundaú (PE e AL), ocorridas em 2010. As lições aprendidas com as falhas na prevenção, diz ele, quase nunca são incorporadas. “Em geral, os desastres são recorrentes no país por falta de uma cultura de prevenção e proteção civil.”
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