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Hospital em Itu (SP) está abandonado e vive rotina de assaltos e tráfico de drogas, dizem vizinhos

Maurício Simionato

Do UOL, em Campinas

12/02/2012 06h00

Criação de animais, assaltos, relatos de tráfico de drogas e de brigas constantes. Este é o cenário de degradação do Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, conhecido como Pirapitingui, que já foi um dos maiores leprosários do Brasil e fica em Itu (101 km de São Paulo).

Hoje, o local é mantido com subsídios do governo do Estado de São Paulo. O hospital funciona como uma espécie de “asilo-colônia” e abriga cerca de 500 moradores, que em sua maioria são doentes de baixa renda, ex-pacientes e familiares deles.

Em uma área de aproximadamente 500 mil metros quadrados, o hospital virou um núcleo habitacional e possui ruas e estrutura de abastecimento de água, luz e esgoto. Apelidado pelos moradores como “Pira”, o local foi criado em 1932 para tratar os doentes de hanseníase, enfermidade antigamente conhecida como lepra.

Dentro da comunidade há também bares e templos religiosos. Vez por outra, moradores de rua tentam invadir a área. As casas antigas são bigeminadas e ficam em meio as conjuntos maiores onde funcionam as diferentes alas do hospital Internados nas enfermarias e nos pavilhões estão cerca de 130 pessoas.

São no total cerca de 300 casas que foram construídas na década de 1930 para abrigar os doentes de hanseníase. Hoje, as casas são usadas pelos pacientes, e algumas estão em situação precária, assim como partes do interior do hospital.

Os relatos de casos de assalto no complexo hospitalar começaram a aparecer nos últimos anos por causa da falta de controle na entrada da área. O alambrado possui buracos. Nos arredores surgiram núcleos habitacionais.

“É um perigo circular à noite na área do hospital. Há casos de assaltos frequentes e tem tráfico de drogas de alguns moradores”, disse Simão Praxedes, 45, que mora no local há cinco anos. Ele conta que veio morar no interior do hospital para não pagar aluguel. “Entraram na casa de um conhecido meu daqui e levaram uma TV”, disse ele.

Em um dos terrenos dentro do complexo hospitalar há até uma vaca criada por um dos moradores, segundo Praxedes. No entanto, a direção do hospital informou que a área onde ocorre a criação do animal não pertence mais ao governo de São Paulo.

Cemitério

O antigo cemitério do leprosário, que fica dentro do terreno do hospital, também apresenta um cenário caótico. São ossos e pedaços de madeiras dos antigos caixões espalhados pelo chão, segundo relatos de moradores e funcionários.

“Aquilo ali parece um cenário de guerra”, disse um funcionário, que preferiu não se identificar. “O mato no local está grande e tem todo tipo de insetos e até ratos”, disse.

O local possui cerca de 200 sepulturas, mas poucas continuam intactas. Há relatos também de que saqueadores já invadiram o terreno para vasculhar os túmulos.

Outro lado

Por meio de nota oficial envida pela assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, a direção do hospital informou que “mantém uma equipe de segurança com dez funcionários, e está em curso um processo de licitação para contratação de serviço de vigilância para quatro pontos, além de estudos para contratação de mais oito pontos de vigilância”.

“Desde novembro de 2011, a Polícia Militar tem intensificado as rondas na área lindeira ao hospital”, diz um trecho da nota. Segundo a direção do hospital, na primeira quinzena de dezembro o hospital passou por dedetização, além das dedetizações pontuais que ocorrem sempre que necessário.

A direção informou ainda que o processo para transferência dos pacientes para os novos pavilhões está em curso. A nota também negou que a área com circulação de animais não pertence mais ao governo do Estado de São Paulo.

Com relação ao cemitério, um projeto de reforma está sendo finalizado, e novas 200 gavetas devem ser construídas para acomodar os restos mortais de túmulos que não foram conservados, segundo a nota da direção.