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Após mortes, Repórteres Sem Fronteiras pedem programas de proteção a jornalistas no Brasil

Do UOL, em São Paulo

14/02/2012 16h24Atualizada em 14/02/2012 16h44

Depois das mortes dos jornalistas Paulo Rocaro, no Mato Grosso do Sul, e de Mário Randolfo Marques Lopes, no Rio de Janeiro, a ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras redigiu uma nota na qual alerta para o momento delicado aos profissionais de imprensa no Brasil e reivindica um programa de proteção a jornalistas ameaçados.

No último domingo (12), Rocaro, 51, morreu após ser atingido por nove tiros enquanto dirigia seu carro em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai. Segundo a polícia, os autores do disparo foram dois indivíduos que estavam em uma moto.

O jornalista era editor-chefe do diário Jornal da Praça e diretor do site Mercosul News. Ele apontava casos de corrupção envolvendo políticos locais e fazia reportagens sobre o tráfico internacional de drogas na região.

Já Randolfo, 50, foi morto a tiros junto com a mulher, Maria Aparecida Guimarães, em Barra do Piraí (RJ) na noite de 8 de fevereiro. Ele era editor-chefe do site Vassouras.net, que trazia acusações de corrupção e irregularidades na prefeitura e Justiça de Vassouras –município vizinho à Barra do Piraí.

O jornalista já havia sofrido uma tentativa de assassinato em julho de 2011, quando levou cinco tiros na região da cabeça, mas sobreviveu.

“A violência registrada no começo desse ano confirma, infelizmente, uma tendência já assinalada na última classificação mundial da liberdade de imprensa publicada por Repórteres sem Fronteiras, na qual o Brasil surge na 99ª posição, após uma queda de 41 lugares”, afirma a ONG.

“Haverá motivos para temer uma deriva à mexicana ou à colombiana? Nenhuma região do país é poupada por essa série trágica, que exige a implementação de programas de proteção e, a curto prazo, investigações policiais rigorosas. Nos dois últimos casos, a hipótese do ajuste de contas político deve ser explorada”, declarou a organização.

Outros casos

A ONG cita ainda a morte do jornalista baiano Laércio de Souza, que trabalhava na Rádio Sucesso, de Camaçari. Ele foi morto a tiros em Simões Filho, após ter recebido uma série de ameaças por celular dias antes do crime.

A polícia investiga se a morte tem relação com as reportagens policiais que Souza fazia --que poderiam ter incomodado o tráfico local-- ou com um projeto social tocado pelo jornalista, que, segundo os investigadores, irritava integrantes do crime organizado de Simões Filho.

A organização lembra ainda de dois supostos ataques contra veículos de comunicação do Paraná, ocorridos em 8 de janeiro: um deles contra a rádio Ibicoara FM e outro contra a Folha do Boqueirão, de Curitiba. No primeiro caso, Emerson Silva Bispo, diretor da rádio, afirma que um incêndio que atingiu o local foi criminoso, motivado pelas críticas feitas contra autoridades no programa Voz do Povo.

No segundo, a causa pode ter sido um curto-circuito, embora o vereador Francisco Garcez, proprietário da rádio, tenha afirmado que recebeu ameaças dias antes do incêndio –presidente do Conselho de Ética da Câmara Municipal de Curitiba, Garcez estava conduzindo algumas investigações contra outros parlamentares.

Por fim, a Repórteres Sem Fronteiras citou as ameaças sofridas pelo repórter Jorge Estevão, colaborador do UOL e editor-geral do site Hiper Notícias. O jornalista foi ameaçado em plena rua, na manhã do último sábado (11), em Cuiabá.

Um indivíduo apontou-lhe uma arma e disse que ele estava “incomodando” e “invadindo o seu território”. Jornalista político, Estevão escreveu reportagens sobre casos de corrupção na cidade.

Quase 900 jornalistas mortos

Segundo o Comitê Internacional de Proteção a Jornalistas, 898 profissionais da imprensa foram mortos desde 1992. O motivo de 40% das mortes é político, seguido de “guerra” (34%), “ corrupção” (21%) e “direitos humanos” (14%) –uma morte pode ter mais de uma motivação, segundo os critérios do comitê.

O campeão em mortes é o Iraque, com 151 casos, seguido das Filipinas (72), Argélia (60) e Rússia (53). O Brasil aparece na 14ª posição, com 19 mortes –sem considerar as mortes registradas neste ano. O ano de 2011 foi o que teve o maior número de jornalistas no Brasil, com quatro casos.