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Mãe de Eloá diz que autorizou relacionamento com Lindemberg para evitar namoro escondido

Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá - Joel Silva/ Folhapress
Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá Imagem: Joel Silva/ Folhapress

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

27/02/2012 19h00

Respondendo a críticas de que teria sua parcela de culpa na morte da filha Eloá por deixar que a garota, aos 12 anos de idade, se envolvesse com Lindemberg, então com 19 anos, Ana Cristina Pimentel disse que é difícil lidar com os adolescentes.

Em 2008, Eloá Pimentel foi morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves após ser mantida em cárcere privado no seu próprio apartamento por cerca de cem horas, em Santo André (ABC Paulista). Ele não aceitava o fim do relacionamento.

“Hoje em dia é muito difícil proibir o filho de fazer as coisas. A gente conversa, mas proibir é difícil. Nós conversamos com ela porque a gente não queria, ela era, de fato, uma criança, tinha 12 anos”, disse. Segundo Ana Cristina, a autorização foi dada para evitar que o casal namorasse escondido. “A gente não queria, mas, pra não namorar escondido, a gente teve que deixar. Mas com limites”, completou.

A mãe de Eloá ainda mandou um conselho. “Eu aconselho aos pais hoje: conversem mais com seus filhos, independente de sexo, se é homem, se é mulher, conversem, sejam mais amigos e procurem saber o que eles sentem, o que está acontecendo.”

As declarações foram feitas durante entrevista coletiva nesta segunda-feira (27), em São Paulo. O advogado de Ana Cristina, Ademar Gomes, disse que “a família de Eloá não se isenta da culpa”, mas que o “o governo tem que fazer mea-culpa também, colocando limites nas novelas, que trazem sexo a toda hora na televisão”.

Para Ana Cristina, a polícia teve “50% de culpa” na morte de Eloá. “O Lindemberg é o culpado (...) Mas a polícia errou. A polícia me deu esperanças a todo momento. Apesar de Lindemberg dizer ‘sua filha não vai sair viva, se ela não for minha não será de mais ninguém’, eu, como mãe, senti que minha filha não ia sair viva. Mas a polícia me deu esperança de que ele [Lindemberg] ia negociar e minha filha ia sair viva. Então a polícia teve chance para fazer alguma coisa, e não fez. Ficou bem claro nas imagens que a polícia teve várias chances para ter tirado a Eloá viva, e não tirou.”

O julgamento

Lindemberg Alves, 25, foi condenado a 98 anos e dez meses de prisão pela morte de Eloá, 15, após quatro dias de julgamento no fórum de Santo André (ABC paulista). A jovem foi feita refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em seu apartamento, localizado em um conjunto habitacional na periferia do município paulista. O crime considerado é o de homicídio doloso duplamente qualificado.

O réu também foi condenado por duas tentativas de homicídio (contra a amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cinco cárceres privados (de Eloá, e três amigos:  Iago Oliveira e Victor Campos, e duas vezes por Nayara, que foi liberada e retornou ao cativeiro) e disparos de arma de fogo (foram feitos quatro).

A pena proferida pela juíza Milena Dias será cumprida incialmente em regime fechado --ele não poderá recorrer em liberdade. O réu, entretanto, não pode ficar preso por mais de 30 anos, de acordo com a lei brasileira.

Entenda o caso

A ação começou no dia 13 de outubro de 2008. Com Eloá, foram feitos reféns os amigos dela que estavam reunidos para fazer um trabalho de escola: Iago Oliveira e Victor Campos foram liberados no primeiro dia de cárcere; Nayara Rodrigues foi liberada no segundo dia, mas retornou ao cativeiro dois dias depois.

O cárcere privado terminou no quinto dia, quando policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), que negociavam a liberação das reféns, invadiram o apartamento, afirmando ter ouvido um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos mais tiros: dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois; Nayara foi levada para o hospital e sobreviveu. Lindemberg, sem ferimentos, está preso desde então.