Topo

Polícia indicia dono de pousada por morte de casal asfixiado por monóxido de carbono em MG

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

27/02/2012 13h23

Quase um ano depois, a Polícia Civil de Minas Gerais concluiu inquérito sobre a morte de casal em uma pousada, localizada na cidade de Brumadinho (51 km de Belo Horizonte), ocorrida em março do ano passado, e indiciou por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) o dono do local e um bombeiro hidráulico que teria sido responsável por aconselhar obra no subsolo do chalé onde morreram os namorados Gustavo Lage Caldeira Ribeiro, 23, e Alessandra Paolinelli de Barros, 22.

O casal foi encontrado na cama no dia 17 de março de 2011, e informações preliminares davam conta de que a lareira instalada no ambiente teria sido a causadora da liberação do gás e a consequente morte do casal.

Casal morto em Brumadinho (MG)

  • Gustavo Lage Ribeiro, 23, e Alessandra Paolinelli de Barros, 22, morreram por vazamento de gás

No entanto, de acordo com o resultado do inquérito, a principal fonte emissora do gás responsável pelos óbitos foi o sistema de aquecimento da banheira de hidromassagem a gás existente no interior do recinto ocupado pelos jovens que comemoravam um ano de namoro.

O equipamento instalado sob o piso do quarto, segundo concluiu o inquérito, foi confinado de maneira indevida, sob orientação do bombeiro hidráulico, e passou a produzir altas concentrações de monóxido de carbono que retornavam ao interior do recinto pelas frestas existentes na tubulação hidráulica da banheira.

Conforme a polícia, Luciano França Drumond, dono da pousada, determinou a construção de paredes de alvenaria em torno do aquecedor a gás da banheira em razão de reclamação anterior de hóspedes que não conseguiam aquecer a água.

Não foi a lareira

“A lareira foi descartada pelos peritos como sendo a fonte principal de produção do monóxido de carbono. Ela produziu também o gás, mas em pouca concentração. O relevante para causar a intoxicação (do casal) foi o aquecedor de água a gás”, informou a delegada Elenice Ferreira, responsável pelo inquérito.

“O local era de muito vento, sendo assim, a chama piloto se apagava com facilidade. Demonstrando muita imperícia, o bombeiro aconselhou a isolar o aquecedor a gás”, disse a delegada, para acrescentar que Drumond não consultou engenheiros responsáveis pela construção dos primeiros chalés existentes na pousada.

Conforme a delegada, peritos ouvidos pela polícia disseram que normas de segurança determinam a instalação do equipamento ao ar livre e ainda contando com auxílio de uma chaminé para expelir o monóxido de carbono e impedir a sua concentração. “A perícia concluiu que não havia nem a chaminé para auxiliar na saída do gás”, revelou.

Laudo de necropsia emitido à época pelo IML (Instituto Médico Legal) de Belo Horizonte apontou a presença de altas dosagens de carboxihemoglobina nos corpos dos jovens e a conclusão de que morreram asfixiados pelo gás.

A delegada disse ter ouvido engenheiros responsáveis pela construção de nove chalés no local que descartaram terem sido consultados pelo proprietário em ampliação feita no local. “Ele construiu mais cinco chalés depois do projeto original e, em todos eles, houve o fechamento indevido do sistema de aquecimento das banheiras de hidromassagem”, disse.

Uso prolongado

Questionada sobre a razão de o acidente ter acontecido com o casal e em detrimento de outras pessoas que ocuparam anteriormente o recinto, a delegada apontou o uso prolongado do equipamento pelos jovens (aproximadamente 10 horas) como a causa da concentração excessiva do monóxido de carbono dentro do ambiente.

A policial disse ainda que a pousada continuou a funcionar normalmente e, somente agora, será feito pleito ao Ministério Público para que o estabelecimento seja interditado. O dono e o bombeiro hidráulico não tiveram as prisões pedidas pela polícia.

“Os laudos só chegaram ao final do inquérito. Tão logo se teve a informação do que efetivamente aconteceu, um ofício está sendo expedido ao Ministério Público para que sejam adotadas as providências”, disse. 

Outro lado

O advogado Fernando Júnior afirmou não ter tido acesso ao teor da conclusão do inquérito e disse que não iria se pronunciar de maneira mais aprofundada sobre o assunto. Ele revelou ter tido conhecimento do resultado pela imprensa. Ele se limitou a dizer que a pousada existe há nove anos e que nunca houve algum tipo de incidente dessa natureza no local.

 "A pousada é de alto luxo. Todas as modificações ou reformas sempre foram acompanhadas da devida orientação técnica. Nós estamos espantados com essa conclusão da polícia, que soubemos pela imprensa, e nos causa estranheza que nunca algo do tipo tenha ocorrido até então. A pousada sempre esteve e está em funcionamento e nunca houve nenhuma anormalidade no local."    

O caso

O casal havia se hospedado no local, dois dias antes, para comemorar um ano de namoro. Sem contato, a família acionou a polícia. Após rastreamento de mensagens postadas no Facebook, policiais conseguiram localizar o paradeiro dos jovens.

Não foram encontradas marcas de violência nos corpos nem sinais de arrombamento no quarto. Durante o curso das investigações, várias pessoas foram ouvidas pela Polícia Civil. Entre elas, o dono da pousada. Ele afirmou que as lareiras do estabelecimento sempre foram alvo de constante inspeção.

Versões sugeriram que o casal fora vítima de envenenamento. Taças com resto de vinho encontradas no quarto foram analisadas e a polícia ainda procurou por drogas no recinto, além de vestígios de que outras pessoas tenham frequentado o local. Amigos do casal descartaram problemas de relacionamento entre os jovens.

O episódio suscitou a confecção de cartilhas, pelo governo do Estado, para orientar hospedes e turistas sobre o manuseio correto de lareiras.